segunda-feira, 28 de maio de 2007

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...

Ultimamente, em meios e situações diversas, tenho tido várias conversas que gostava de confrontar neste post.
Um dos temas era o "criticar os outros" o outro o agir conforme as nossas convicções "no matter what"...

Talvez seja mais fácil, para me explicar melhor, começar pela segunda questão.

Não é só relativamente à questão do Euromilhões que eu sou uma perfeita anormal, há muitas mais.
Por "perfeita anormal" leia-se "fora da normalidade"... Ou seja, há muitas coisas relativamente ás quais não me enquadro nos padrões da nossa sociedade...
Mas atenção, não estou sozinha, há mais como eu, em diversos campos...
Be afraid, be very afraid, eles andem aí! LOL

Dando um exemplo concreto:
Não sei o que é pudor... quero dizer pudor físico. Para mim estar nua ou vestida é perfeitamente igual nesse sentido e a nudez não tem nada "de mal", nem conotações obrigatoriamente sexuais, ás vezes tem e ás vezes não tem...
Para além disso adoro estar nua (quando as condições climatéricas o permitem porque sou muito friorenta... LOL) em certas situações. Gosto de nadar nua, de estar nua ao sol , de dormir nua, de andar nua pela casa...
Há situações em que para mim faz sentido a nudez e outras em que não faz. Isto é pessoal e intransmissível mas estou perfeitamente consciente de que várias das situações em que para mim faria sentido, para a maioria das pessoas não faz.
Como resultado, tirando no banho raramente estou nua, como gostaria.
Porquê? Simplesmente porque vivo em sociedade e acho que não faz sentido "chocar" o próximo. Se as pessoas se "incomodam" com a nudez alheia (já sem falar da sua própria) não vejo razão para a impor.
Não considerando a nudez como uma coisa "condenável" como resolvo então a situação?
Ao sabor da maré...
Se estou acompanhada tento ter a sensibilidade de perceber se quem está comigo se incomoda ou não. Vivi com uma pessoa que até de eu passar em pelota da casa de banho para o quarto se incomodava...
Dentro de limites que considere razoáveis tento adaptar-me ás diversas situações.

Outro exemplo, tenho ideias relativamente a vários assuntos, tipo a vida o amor e as vacas, que sei que não serão partilhadas pela maioria das pessoas. Aliás, não só não serão partilhadas como serão "condenadas" pela maior parte delas...
O que faço então? A mesma coisa... falei da nudez porque era mais fácil de explicar, mas relativamente ás ideias, dentro de certos limites, só as "mostro" a quem acho que posso, para não agredir ninguém...

Dito isto chegamos então ao primeiro ponto... o criticar os outros...
Eu critico os outros, julgo que todos o façamos, se alguém age de uma forma que não vá ao encontro daquilo que penso, daquilo que sou, sou perfeitamente capaz de "cascar" e faço-o regularmente. Aliás, no nosso grupo de amigos o cascar é mesmo considerado um "desporto nacional"... LOL
Agora, quem sou eu, quem somos nós, para crucificar o próximo?
Uma coisa é falar, discutir o assunto, "cascar" no sentido em que se está a afirmar não estar de acordo com "certas e determinadas" coisas. Outra coisa é "zangar-se" directa ou indirectamente com essas pessoas, po-las à margem, atiçar-lhes os cães.
Para começar, "quem nunca pecou que atire a primeira pedra"... é muito perigoso atirar pedras pois podem muito bem um dia vir de volta. Ás vezes criticamos certas atitudes a terceiros que mais tarde, sabe-se lá, por qualquer razão, podemos vir nós próprios a ter,
Depois, quem somos nós para julgar? É muito fácil ter "nobres" princípios e ideias muito definidas sobre os assuntos, mas às vezes não é evidente po-los em pratica.
Notem que não estou a falar de coisas que nos afectem directamente. Se alguém "se portar mal" comigo, sinto-me no perfeito direito de "me zangar", estou a falar de atitudes, maneiras de ser, maneiras de viver, de actos que só dizem respeito a quem os pratica...

Ora perguntam vocês; onde é que estas duas "conversas" se tocam?
Acho que há pessoas que insistem em impor a sua maneira de ser nos dois casos...
O "sou assim, sou assim..." ou como dizem os franceses (olá Carlinhos... ; ) "qui m'aime me suit", para mim não faz sentido nenhum, acho que não devemos impor as nossas ideias a quem não é capaz de lidar com elas, é como uma violação...
Por outro lado acho que não temos direito de crucificar as atitudes dos outros, o que pensam, como agem, cada um sabe de si...
Um bocado paradoxal, não?
Pois... é para pensar...




sexta-feira, 25 de maio de 2007

Querida Maria, sou assumidamente anormal...

Queridos comentadores, não sei se me fiz bem entender no último post...
Tinha prometido novo capítulo relativamente ao tema e devo dizer que o escrevi.
Mandei no entanto tudo para o caraças (horas, dias, semanas, meses, de escrita...LOL) porque acho que não vale a pena.

Conversas várias despertaram-me interesse por outros temas, que pessoalmente considero bastante mais estimulantes, e vou antes "publicar" sobre o assunto.

Relativamente ao post anterior tenho só a dizer que não era uma apologia da pobreza, que não afirmei que gostava de não ter dinheiro e que estou perfeitamente consciente de que o dinheiro pode de facto comprar muitas das coisas que contribuem para a nossa felicidade.

Continuo no entanto a achar que não gostava de ganhar o Euromilhões, mas gostava sinceramente que algum de vocês o ganhasse para observar, ao vivo e a cores, se um ou dois anos depois estavam de facto muito mais felizes...


Mambo No. 5 - Lou Bega






quarta-feira, 16 de maio de 2007

Querida Maria, serei anormal?

Na sequência da minha desastrosa actual situação financeira, um amigo enviou-me um PDF com o intuito de me ajudar a resolver a situação...
O livro chama-se "The science of getting rich" , publicado em 1910 por um certo Wallace D. Wattles.
A "coisa" tem oitenta paginas das quais ainda só li 15, não sei portanto como vai ser o resto, mas logo nas primeiras frases fiquei chocada!
Diz coisas como "Whatever may be said in praise of poverty, the fact remains that it is not possible to live a really complete or successful live unless one is Rich" ou "The person who does not desire to live more abundantly is abnormal, and so the person who does not desire to have enough money to buy all he wants is abnormal"...

Quer dizer... ou não temos a mesma noção do que significa "riqueza" ou eu sou de facto uma perfeita anormal...

Para mim ser "rico" é ter muito mais dinheiro do que aquele de que precisamos para viver.
Claro que é uma noção altamente discutível.
Para o sem abrigo que vive "debaixo da ponte" a minha empregada poderá ser considerada "rica" e para esta eu sou provavelmente "rica", and so on...
Acho no entanto que todos temos uma ideia geral do que é "ser rico", tipo o Bill Gates é definitivamente rico e quem ganha o Euromilhões fica rico.
O que me chocou na introdução do tal livro foi a afirmação de que ninguém pode basicamente ser feliz se não for rico.
Não podia discordar mais...

É sabido que nunca temos tudo o que queremos.
Há sempre qualquer coisa a que aspiramos.
Eu neste momento, por exemplo, já me contentava com não ter dívidas.
De futuro aspiro a ter uma vida melhor, mais confortável, sem dúvida.
Mas porra, sou uma pelintra mas sou extremamente feliz, não preciso para isso de ser rica!!!

Não queria encher o meu filho de prendas, de bonecada, de playstations e computadores, queria só não ter de lhe responder de cada vez que me pede alguma coisa, coisinhas de merda ás vezes, que não pode ser porque a mãe não tem dinheiro.
Não queria um carro novo, os meus carros velhinhos servem-me muito bem, queria só não ter uma crise de choro quando me anunciassem que vou ter de mudar de pneus.
Não queria dar grandes festas ou banquetes, gostava só de poder ir almoçar ou jantar fora sem ter de ser convidada por alguém.
Não queria poder passar um ano a viajar gostava só de fazer uma viagenzita de vez em quando.
Isto é ser rico?
Lá está, para algumas pessoas se calhar até é...

Mas... não gostava por exemplo de ganhar o Euromilhões caraças!
Pronto, neste momento já estão todos a achar que sou mesmo uma anormal, mas eu explico.
Jogo todas as semanas (2 Euritos) na esperança de que me saia um prémio pequenino só para poder limpar dívidas.
Se me saísse o primeiro prémio ia-me sentir completamente à rasca.
Acho que as pessoas estão completamente iludidas relativamente ao que deve de facto ser ganhar uma exorbitância de massa dessas do dia para a noite.
Para começar o assédio (eu não sei quem são os portugueses que têm ganho, mas deve haver muita gente que sabe)... entre bancos, malta a propor negócios, a pedir caridade, que é o que me ocorre assim de imediato, deve ser de loucos.
Depois deve gerar uma insegurança filha da mãe, acho que ia passar o tempo todo preocupada com assaltos, raptos, etc.
Deve-se ficar completamente perdido, oquê que se faz quando se pode fazer tudo (ou quase) o que o dinheiro pode comprar?
Onde é que vão parar os princípios, a noção do que é verdadeiramente importante na vida?
Se por acaso isso me acontecesse, não tenho qualquer tipo de dúvida de que tiraria qualquer preocupação financeira (do género das que tenho neste momento) a todos os que me estão próximos.
Mas até isto é complicado... qual é o critério?
Falando em família por exemplo, não tenho qualquer dúvida de que ajudaria os meus irmãos. Gostaria também de ajudar alguns dos meus primos, mas há outros para os quais me estou francamente a cagar... Não ajudava esses, ou ajudava "menos", criando graves "incidentes diplomáticos"? Ajudava-os a contragosto só porque tinha ajudado os outros? De repente ia ter primos muito amiguinhos só porque lhes tinha passado guito para a mão? Onde é que vai parar a verdade das relações entre as pessoas num caso destes?
Claro que estou a falar em família mas aplica-se a toda a gente. De repente, em muitos casos, deve-se deixar de perceber bem quem é quem, porquê que as pessoas se dão connosco.
Ajudar instituições de caridade por exemplo... ya, mas quais? Dá-se dinheiro e ele vai para quem precisa ou para encher os bolsos de quem organiza? Ouvimos falar em tanta aldrabice...
Comprar coisas... confesso que até gramava ter uns trapitos que não deformassem ou perdessem a cor nas lavagens... mas onde é que está a fronteira? O que me garante que ás tantas, podendo, não estivesse a comprar farpelas de duzentos contos? E para quê?
Ou de facto a dar ao meu filho tudo o que ele me pedisse? Será que isso o iria fazer mais feliz? Duvido muitíssimo... Acho bastante mais importante enchê-lo de beijos do que de prendas... e quando há a possibilidade de vir uma prenda "na ponta" do beijo será que ele sabe ao mesmo?
Ás tantas devem ser só preocupações, como gerir o dinheiro, a quem dar, o que dar, quanto dar, o que comprar, o que não comprar... Ia sentir o peso do mundo nas costas.
Se calhar sou mesmo uma anormal, mas não quero "ser rica" não...



06 Money Song.wma -

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Terapia da fala

A minha mãe ultimamente gosta muito de dizer que chegou à conclusão de que "a falar é que a gente não se entende" o que, devo confessar, muito me irrita...
Repete-o tanto que me pôs a pensar.
Será que ela tem razão?

Quanto mais penso sobre o assunto menos de acordo estou com ela.
Sempre resolvi os assuntos na minha vida conversando.
E quando não conversei, não os resolvi.

"Falar" por escrito é um pau de dois bicos.
Tem a vantagem de não se ser interrompido, de se poder expor o nosso ponto de vista do princípio ao fim sem que haja divagações pelo meio, é mais fácil seguir um raciocínio.
O facto de não se estar cara a cara também pode eventualmente ajudar a deixar sair assuntos mais "delicados".
Tem também a seu favor o facto de se poder dizer coisas que eventualmente irão despoletar emoções sem que a outra pessoa esteja presente, dando-lhe assim o tempo de reagir perante essas emoções em privado e de pensar nelas antes de responder, se for caso disso.
É no entanto perigoso porque se corre o risco de ser mal interpretado.
Nem sempre conseguimos ser claros nas nossas exposições.
Se a outra pessoa estiver à nossa frente reage ao que dizemos e mais facilmente podemos perceber se estamos a conseguir transmitir realmente o que queríamos.
Quando não é o caso podemos estar a seguir uma linha de pensamento que está a ser levada para "sítios" que nem imaginamos.
Por outro lado, havendo reacção, ás vezes podíamos poupar muito tempo em exposições/explicações ás vezes inúteis. Podemos por exemplo estar nós próprios a reagir a uma coisa que na realidade não aconteceu (um acontecimento, um pensamento/reacção da parte do outro ou mesmo um mal entendido inicial...) se fossemos informados desse facto no início poderíamos poupar o nosso latim...
Para além de tudo isto corre-se o risco da nossa "conversa" ser "apanhada" por alguém a quem não era dirigida o que pode gerar ainda mais confusão.

Mas enfim, isto era só uma divagação sobre a conversa escrita, o assunto era mesmo a conversa em geral...
Perguntei-me porque seria que a minha mãe teria esta ideia, quanto a mim absurda...
Cheguei à conclusão de que se calhar não é tão absurda assim... há talvez algumas pessoas (ás vezes circunstancias) com quem não vale a pena falar. Agora isto não quer dizer que "a gente" se entenda não falando. O que provavelmente quer dizer é que, com essas pessoas (ou nessas circunstancias) não há de facto qualquer entendimento possível.
São uma espécie de papagaios das relações humanas.
Dizemos-lhe "bom dia".
Respondem "bom dia".
Continuamos "estás bom?"
Respondem "bom dia"
Tentamos "como é que te chamas?"
Respondem "bom dia, cruáááá"
Estou na brincadeira mas é de facto como me sinto ás vezes...

Há gente que simplesmente não reage à nossa conversa.
Acho que na realidade não a ouve... vai repetindo as mesmas coisas over and over again sem nunca ouvir o que temos para dizer, sem nunca pensar nisso.
Tive um bocadinho essa sensação em algumas das minhas separações (neste caso é circunstancial, não tem a ver com as pessoas em questão) tentei falar, dialogar, explicar e dei de caras com paredes. Acho que simplesmente nunca ouviram o que eu estava a dizer... A prova é que, depois de dezenas de horas de explicações, continuavam a perguntar "porquê?".
Mas ás vezes é mais grave, há pessoas que são mesmo assim.
Tenho neste momento um assunto de trabalho "pendente" porque o interlocutor é "desses". Tem sempre razão e raramente se engana, é das pessoas mais prepotentes que alguma vez conheci e pura e simplesmente não ouve...
De facto, nestes casos, "a gente a falar é que não se entende", quanto muito desentende-se ainda mais... o que não quer dizer que se entenda se não falar.
O melhor mesmo é desistir, proteger-se e "seja o que Deus quiser"...

Agora que não haja dúvidas de que não falar pode ter consequências sérias...
Muitas pessoas se acham grandes juízes do que se passa na cabeça alheia.
Isto pode dar tanto azo a mal entendidos como a tal "conversa escrita".
Por muita intuição que se tenha esta nunca é infalível e se não se puserem as coisas em pratos limpos vai-se andando, mas anda-se muitas vezes coxo.
Eu acredito no falar para resolver situações.
Sempre que não falei saiu-me o tiro pela culatra.
Ainda tenho cicatrizes de situações provocadas por coisas que "não disse", pelo menos na altura em que devia ter dito e que mais tarde são irrecuperáveis.

É desgastante ás vezes falar, esclarecer as coisas...
Confrontamos situações em que era mais fácil ás vezes "esconder o sol com a peneira", fazer de conta que não existem.
Ou achamos que vamos estragar "a magia" de alguma coisa.
Ou então que podemos "estragar tudo" levantando certas questões.
Ás vezes ouvimos coisas de que não gostamos... mas quem sabe se não era necessário ouvi-las?
Obriga a por em questão as nossas ideias, os nossos sentimentos...
Nem sempre é fácil falar, ás vezes temos a sensação de estar a falar com a(s) outra(s) pessoa(s) numa língua diferente...
Ou há agressividade, ressentimento, dor, insegurança à mistura o que não é fácil de enfrentar.
Mas se se conseguir falar, sobretudo se se conseguir escolher o momento mais certo (ou ás vezes "menos errado") para o fazer, resolve-se de facto a maior parte das questões.
Evita-nos ás vezes de desistir de coisas que são importantes para nós ou pelo contrário de insistir em coisas de que na realidade deveríamos desistir.
Ajuda-nos a ganhar "SABEDORIA PARA PERCEBER A DIFERENÇA"...
Eu continuo a acreditar que, sendo possível, é bom falar de tudo e mais alguma coisa...