terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Change we can believe in

COM MÚSICA

As pessoas hoje em dia olham para mim como se fosse um bicho estranho… (ou uma aldrabona… lol).
É no entanto uma realidade (e a mais pura das verdades) que levo a vida com serenidade, com paz de espírito, que me sinto bem comigo e com os outros e que me considero uma pessoa profundamente feliz.

Ser feliz não quer dizer “limpar a merda do cão nauseabundo de sorriso nos lábios”...
Uma pessoa feliz não está sempre bem.
Pode estar triste, stressada, doente, cansada… podia agora dissertar sobre o assunto mas prefiro fazê-lo noutro post… mas não deixa por isso de ter a perfeita noção e sem qualquer sombra de dúvida de que É feliz.

As pessoas felizes não têm vergonha ou pudor de se afirmarem felizes.
Simplesmente porque querem mais é que os outros o sejam também e para tal é bom que acreditem na felicidade, como sendo uma coisa real, “atingível” e não como uma qualquer utopia.

Eu nem sempre fui feliz… Digo isto porque é importante para mim, que aqueles que me consideram um bicho estranho (quero que os que acham que sou uma aldrabona vão apanhar onde apanham as galinhas… aliás, acho que esses nem devem vir cá ler-me… hehe) percebam que isto não é uma coisa genética… Uma pessoa não nasce já com o gene da felicidade!!! Qualquer um pode lá chegar. Amigo! Alista-te!!! ;)

lol

Quando eu nasci…
Têm tempo? Senão se calhar o melhor é voltarem noutra altura.
Ahah… brincadeirinha!!!
A sério!!! Vai ser breve e indolor…
Vou usar todo o meu (pouco) poder de síntese…
Bem…
Como eu dizia… quando nasci, fui primeira a filha e a primeira neta dos dois lados.
Apesar de ser um bicho muito feio, era a única e fui mimada e apaparicada por tudo quanto era gente à minha volta.
Fizeram-me acreditar que era o centro do universo, que tudo me era devido. Era uma daquelas crianças que quando me aparecem à frente me dá logo vontade de lhes dar com um pano encharcado na tromba…
Vivia no entanto uma eterna insatisfacção, era mimada… lembro-me por exemplo de pegar numa tesoura e cortar um vestido de boneca todo aos bocadinhos porque não estava a conseguir cozer-lhe um botão.

Foi a minha fase “I’m the king of the Word!!!”


Depois os meus pais separaram-se, civilizadíssimamente e mantiveram-se muito amigos até à morte do meu pai.
O problema foi outro… os respectivos. Tanto de um lado como do outro grandes problemas, pessoas infantis, inseguras, egoístas, que nos trataram mal.
Não, não se pode sequer considerar a palavra “violência”… nem física nem psicológica, não estamos na Oprah pessoal, se querem ver sangue vão ter de procurar noutro lado.
Mas… trataram-nos de facto mal. Não gostaram de nós, não nos aceitaram a não ser como “um mal necessário” para poderem estar com “o outro” (neste caso o nosso pai e mãe), não tiveram nem respeito nem consideração por nós. Para mim isto é tratar mal…
Passada a minha fase de menina mimada (sim, porque passou ó caraças!!!) passei por uma fase de revolta, em que vivia numa angústia e ansiedade constantes porque me recusava a aceitar ser tratada dessa maneira, queria ser tratada como gente…
O resultado era um serzinho extremamente agressivo, sempre de garras de fora pronta a atacar ao mínimo sinal de alerta. Foi uma fase extremamente difícil e dolorosa.

Foi a minha fase “Que mal fiz eu a Deus para merecer isto?”


Depois de passar de “centro do universo” para “mal necessário”, como poderão compreender, tive uma adolescência digamos que um pouco conturbada…
Achava típicamente que não valia nada, que ninguém gostava de mim, que os meus amigos não eram mesmo amigos, que ninguém me convidava para nada, que era gorda… yada yada yada…
A minha auto-estima desceu a tal ponto que, com quatorze anos, fiz uma tentiva de suicídio. Notem que não disse “uma chamada de atenção”, quando faço uma coisa faço-a como deve de ser… (bem, pelos vistos nem por isso… lol) Deu direito a umas horas em coma, uma semana de internamento, meses em casa, psicólogos e a maior das dificuldades em enfrentar de novo fosse quem fosse , acima de tudo os meus pais.
Foram provávelmente os tempos mais negros de toda a minha vida em que tive de compreender o que é que isso queria dizer “a minha vida”…
Tive de enfrentar os sentimentos de culpa mais pesados que possam imaginar… eu tentei assassinar a filha de alguém, imaginam como esse alguém se possa sentir com isso?!
Foi uma altura em que não conseguia compreender porquê que o sol brilhava…

Foi a minha fase “Adeus mundo cruel!”


Aos dezenove anos decidi ir viver com o meu professor de filosofia, quinze anos mais velho do que eu e com um filho de doze, em vez de ir estudar para Londres como estava previsto.
Era professor, prestigiado encenador do grupo de teatro, carismático, admirado, amado, cobiçado… tinha de “consegui-lo”… Já era sabido que “andava” com ex-alunas… já tinha “tido” várias…
Para mal dos meus pecados consegui.
Fui profundamente infeliz durante três anos e meio e o suplício só acabou porque ele morreu, senão sabe-se lá quantos mais anos teria durado.
Não, não o assassinei… ; )
Foi uma relação de uma violência psicológica passiva sem nome.
Não me apoiava em nada, tinha mil amantes que pavoneava constantemente à frente do meu nariz como se eu fosse parva, manipulava-me completamente, mais uma vez não tinha o mínimo respeito ou consideração por mim.
Em dois anos perdi 17 kilos!!! Fiz check ups, consultei médicos, não havia qualquer razão aparente para isso. Passei de 56 kgs para 39!!! Imaginam uma rapariga de vinte e um anos com 39 kgs?! Anorética, sim… Só que não comia para ir vomitar, nem nada que se parecesse, levava uma vida aparentemente normal… não podia era dormir de barriga para baixo porque queimava os ossos das ancas nos lençois…
Tive nessa altura os meus primeiros (e útlimos) ataques de ansiedade, faltava-me o ar, o coração disparava e ficava totalmente convencida de que, apesar de não saber porquê, ia morrer nos próximos minutos.

Foi a minha fase “Tirem-me daqui que eu não sou deste filme…”


Uns anos depois conheci aquele que foi o meu marido e a minha maior paixão.
Apareceu-me como o cavaleiro andante que me iria salvar da vida porca e miserável que levava há tantos anos. A relação era toda ela coração, toda ela conto de fadas, toda ela “happily ever after”…
Abdiquei totalmente do meu lado racional para me dedicar a ela.
Dizem que o amor é cego… subscrevo completamente. O coração palpitava de tal maneira que abafava as palavras do cérebro.
Não vi o óbvio… que nunca iria dar certo… que éramos demasiado diferentes.
Ele apaixonou-se por um tigre mas depois quis um gato… o tigre era demasiado assustador em todos os sentidos… e eu não pude encolher.
Mas tentei, tentei com todas as minhas forças… tentei rugir baixinho para que mais parecesse um miado, tentei fazer-me pequenina, tentei pôr as garras para dentro.
Mas por muito que tenha tentado não consegui ser o que precisaria de ser para que resultasse.

Foi a minha fase “Amor e uma cabana.”


Durante todo este tempo fui uma pessoa irrascível, intolerante, injusta ás vezes… Fiz passar as passas do algarve aos meus amigos, namorados, familiares. Tinha terríveis ataques de mau génio que faziam tremer quem estivesse por perto. Amuava. Ficava ofendida. Queixava-me constantemente de tudo e de todos. Enfim…

Até que um dia… há não muito tempo… deu-se um clic ... fez-se luz.
Não sei o que aconteceu, não sei como foi… mas percebi tudo.
De repente tudo fazia sentido.
Comecei aos poucos a tentar arrancar as ervas daninhas que ia identificando no meu jardim… foi difícil, não estava na minha natureza, mas forcei-me a isso e continuo a forçar-me diariamente (sim, porque ainda há muitas para arrancar… e estão constantemente a nascer novas…) e dei-me conta de que era feliz assim.
Dei-me conta de que o que dou à vida recebo de volta… e como “quem semeia ventos, colhe tempestades” tento semear coisas mais agradáveis. É só isso o truque…

É a minha fase "Sou uma babaca... ;) "


Yes we can! ; )

11 comentários:

  1. Adorei....Também sou Feliz e não o digo muitas vezes....Tenho de passar a dizer mais.
    Não concordo contigo quando dizes bicho feio.....Ninguém é bicho feio...
    Isso é que foi uma caminhada para felicidade!!!! Dura mas chegástes....
    Beijinhos grandes

    ResponderEliminar
  2. Ahem!

    Usar o Happiness para ilustrar o que estás a dizer é um bocado perigoso...

    Quem não viu o filme até vai achar que é um filme sobre pessoas felizes...

    ResponderEliminar
  3. Grrrrrr!!! (isto era uma citação...)
    Tinha de vir o cinéfilo estragar tudo... ainda por cima odeio quando tens razão... estava a ver se passava... na esperança de que ninguém associasse o título à história... Já tirei, prontes!
    GRUNF!

    ResponderEliminar
  4. Hei! Não te acho um bicho estranho... anormal sim... bicho estranho não... dessas que a gente até gosta da companhia...

    Joking!

    O teu caminho foi longo, mas olha que valeu a pena!

    ResponderEliminar
  5. NAMASTÉ K!

    Mas esse gran finale foi porque encontraste o Nosso Senhor que te deu paz de espírito!

    Claro que para mim continuas o mesmo estafermo de sempre... he he!

    ;-)

    ResponderEliminar
  6. Erro!
    EU não sou uma camaleoa... mas que ajuda estar nos braços de Nosso Senhor, ajuda... lol

    E não é só para ti que continuo o mesmo estafermo de sempre...
    Mas enfim, como dizia o outro, "The only man I know who behaves sensibly is my tailor; he takes my measurements each time he sees me. The rest go on with their old measurements and expect me to fit them. "

    ;)

    ResponderEliminar
  7. Se te tivesse conhecido mais cedo...

    Chamava-te parva quando eras miuda.
    Maluca quando cresceste.
    Completamente infantil quando já serias adulta (seja o que isso fôr) mais tarde.

    Ainda bem que tu e eu crescemos e só agora nos encontrámos. Ou não.

    ResponderEliminar
  8. Só agora não.

    Ainda bem que nos encontrámos.

    ResponderEliminar
  9. Ah Babaca... tu me gustas muchisimo asi, babacando

    Pois é, é preciso um clic. E quando nós, humanos errantes pelos mundos das nossas vidas, insistimos em fecharmo-nos para não ouvirmos nem entendermos os nossos clics salvadores, a vida encarrega-se de nos fazer chocar com eles.

    Li o teu post ontem; e voltei hoje para o reler... É que ontem o teu post clicou-me. Dormi. Voltei...

    Sabes Babaca, há por aí várias pessoas a escrever bem, várias a escrever com graça, várias a escrever sobre assuntos importantes. Mas. Mas não há muitas a escrever sobre coisas intimamente importantes, sobre o processo e a viagem da vida. E. E, das que o fazem, surge frequentemente um acariciar de ego na intenção que lixa tudo. Um "olhem para mim" como grito de várias razões interiores, que cansa.
    Aqui encontro coragem, muita e de dois tipos: a exposta e a de se expor; encontro o tom despretensioso de quem partilha experiências, aprendizagens, pensamentos, com a naturalidade de quem conversa com um amigo.

    Olha Babaca, vai à bruxa e pergunta-lhe se não há, pelo menos, um livro publicado no teu futuro

    Abraço-te

    ResponderEliminar
  10. yessss lindo post

    esqueceste a nina neste blog ?

    beijos

    ResponderEliminar
  11. Alex, eu não preciso de me acariciar o ego porque mo acariciam vocês... ;)

    @nn@, como "esqueci-me da Nina"?!

    ResponderEliminar