terça-feira, 29 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

De boas intenções está o inferno cheio

COM MÚSICA

Recentemente enviei um mail que despoletou uma explosão atómica no seio de um grupo de pessoas…

O dito cujo estava recheado de boas intenções, era simpático e educado.
As reacções que provocou foram de bradar aos céus… um diz mata outro diz esfola… palavras irreflectidas, azedas, insinuações, acusações, agressões…
Gerou-se um clima de tensão, de má onda, de ressentimento, o que era exactamente o oposto do efeito desejado.
O que é ainda mais grave, a pessoa que tentava ajudar foi quem saiu mais magoada disto tudo. Foi o chamado tiro pela culatra.


Inútil será dizer que fiquei absolutamente mortificada com esta história.
A cada novo mail que chegava, dava-se-me uma volta ao estômago. Só me apetecia gritar que parassem. Considerei no entanto que não deveria interferir, por risco de piorar ainda mais a situação.
Falei em privado com vários dos implicados. Todos compreenderam, felizmente, que o assunto tinha descambado, que não era minha intenção provocar uma guerra daquelas. Quase todos me desresponsabilizaram totalmente do resultado final.

É aqui que a porca torce o rabo…
Sou responsável, sim!
Se não tivesse enviado o raio do mail, nada disto teria acontecido. Ou pelo menos se não o tivesse enviado em “Reply to All”…
Pensei que uma reflexão sobre o assunto em questão fosse proveitosa para todos.
“Não podias prever…” disseram-me alguns…
A questão é que podia, sim. Se tivesse pensado três segundos, poderia ter previsto o desastre. Fui descuidada. Sabia bem o feitio das pessoas com quem estava a lidar e poderia não ter provocado a sua reacção. Podia ter enviado a minha mensagem em privado.
Senti-me como se tivesse desastradamente apoiado o cotovelo no botãozinho vermelho…


Neste momento estão vocês, queridos leitores, a perguntar-se por que raio é que a gaija vem para aqui contar estas coisas… lol
Escrevo porque a atitude dos que me apoiam me choca um bocadinho, suponho… Se me desresponsabilizam, provavelmente também o fariam a si próprios. Acho essa atitude muito negativa. Se não errámos, não há nada a corrigir, não há reflexões a fazer.
Ora houve aqui nitidamente uma atitude errada, uma negligência, que teve como consequência grande sofrimento. Há ilações a tirar sim, para que a história não se repita.
E há pedidos de desculpas a fazer (que estão feitos, por sinal, e nunca é demasiado repeti-los).

Para que possam melhor compreender o que estou a tentar transmitir, utilizemos outro exemplo.
Como julgo já ter mencionado aqui, a minha avó materna morreu atropelada.
Tinha 74 anos, sã que nem um pêro, ia para a ginástica. Atravessou a Av. da República fora da passadeira, com o vermelho para os peões. Um carro apanhou-a em cheio, morreu logo ali.

Agora imaginemos que não tinha tido morte instantânea. Imaginemos também que a ambulância tinha demorado imenso tempo a chegar, que o pessoal hospitalar tinha sido descuidado, que os médicos tinham sido negligentes, acabando então por morrer mais tarde.
Quem teria sido o causador da sua morte?
É certo que ela própria a provocou, ao menosprezar as regras básicas do comportamento rodoviário. A realidade é que o condutor vinha em excesso de velocidade, não tendo por isso conseguido evita-la. E esta parte é real, não só no nosso “supônhamos”…

Será que, neste nosso exemplo hipotético, a causa da sua morte não teria sido a assistência deficiente? Possivelmente.
Mas não seria de qualquer maneira caso para o condutor reflectir sobre a sua atitude na estrada? Para pedir desculpa à família?!

Não me martirizo pelo que fiz, não me castigo, já me desculpei. Vivo com a dor que causei com arrependimento mas sem mágoa, pois sem dúvida não foi intencional.
Mas, por me obrigar a todo este raciocínio, por arcar com as consequências dos meus actos, provavelmente estarei muito mais apta a não voltar a fazer outra do género do que os que encolhem os ombros e dizem “a culpa não foi minha…”
No que diz respeito aos outros... bem, como se costuma dizer, os actos ficam com quem os pratica. ;)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quem sou, de onde venho, para onde vou?

COM MÚSICA



Quem somos nós para os outros?
Que importância temos nas suas vidas?
Como nos relacionamos com eles?

Para alguns, filhos, pais, somos o centro do universo, a vida gira à nossa volta. Não se imaginam a viver sem nós.
Para outros, com quem nos vamos cruzando, somos perfeitos desconhecidos, figuras humanas na multidão. Passam por nós sem sequer nos verem.
Pelo meio… muitas atitudes, muitas opiniões, muitos sentimentos.

Há quem empatize connosco e quem não nos grame. Quem nos ponha nos píncaros e quem nos mande abaixo. Pessoas com quem nos damos melhor ou pior, de quem gostamos mais ou menos… Todos terão alguma opinião sobre nós, assim como nós as temos sobre eles.

Aquilo de que nos apercebemos da visão dos outros sobre a nossa pessoa é um bocado como um espelho de quem somos.
É no entanto igualmente uma armadilha pois, na minha opinião, pode fazer efeito de pescadinha de rabo na boca…
Vejamos, por exemplo a questão da auto-estima. Se não gostamos de nós próprios, como poderão os outros gostar? Mas se os outros não gostarem, estarão de certo modo a validar o facto de nós não gostarmos, criando assim um círculo vicioso.

Por outro lado, a nossa percepção pode ás vezes fazer efeito de espelho deformante. Tal como os anorécticos se vêm gordos no espelho, também nós ás vezes nos enganamos na leitura dos sinais que nos chegam.

Convém ter em conta que nem todos nos conhecem bem, alguns, provavelmente a maioria, terão uma noção muito superficial do que somos, oferecendo assim um feed back deficiente, incompleto. Podemos no entanto tê-los todos em conta, pois qualquer informação pode ser relevante, qualquer novo dado importante.

Todos, julgo eu, gostamos de nos sentir apreciados, respeitados, amados… para isso tomamos uma série de atitudes na vida. Só que, muitas vezes, tomamos a atitude que julgamos que o outro apreciará em vez da atitude que ele irá apreciar de facto. Agimos baseados em “suponhâmos" que nem sempre têm a ver com a realidade.

Todos erramos de vez em quando, o que não quer dizer que “sejamos” os erros que cometemos. Como se costuma dizer “viver e aprender”… Se não nos dermos abébias também não as poderemos pedir aos outros. É falhando e tentando de novo que se aprende.

É também ouvindo e estando atento, que se evolui… Os outros nem sempre estão errados, não somos detentores da verdade absoluta. Por muito que possa custar, às vezes há que se render à evidência de que qualquer coisa não está a funcionar como deve de ser.

Se tentarmos repetir o que nos corre bem e afastar-nos do que deu maus resultados, já é meio caminho andado. Olhando para as nossas características várias, optemos por estimular as que mais alegrias nos trazem, exploremos o nosso potencial positivo.

O facto de admirarmos, de respeitarmos uma pessoa, pelo seu sucesso, a sua inteligência, a sua cultura, a sua beleza, ou seja lá o que for, não quer dizer que gostemos dela. O mesmo se passa com nós próprios, o facto de nos podermos eventualmente ter em grande conta, não quer dizer que nos apreciemos realmente, que nos tratemos bem, como se trata alguém de quem se gosta…

Muito facilmente analisamos e comentamos a vida alheia e não estou a falar em mexericos e fofocas.
De vez em quando, em conversa, com os próprios ou com terceiros, surge naturalmente uma crítica. Damos a nossa opinião, fazemos eventualmente sugestões de como se poderia alterar um estado das coisas que não consideramos saudáveis.
Também acontece o contrário, louvamos atitudes alheias e gabamos-lhes os resultados.

No entanto, como se costuma dizer “a educação começa em casa”… Aquilo que fazemos relativamente aos outros, muitas vezes não o fazemos interiormente, relativamente á nossa pessoa.
Ás vezes tenho um bocado a sensação de que as pessoas “falam”, agem, consigo próprias como o fazem com os seus animais domésticos, por exemplo…
Ninguém explica a um cão porque não deve fazer xixi no meio da sala ou que tem de comer ração de dieta porque está doente. Agimos e falamos sucintamente, relacionamo-nos com eles a um nível muito básico e intuitivo pois sabemos que não têm capacidade para mais.

Com os seres humanos argumentamos, racionalizamos, exemplificamos, explicamos… fazemos uma ginástica muito maior, basicamente somos obrigados a pensar mais.
Então porque tantas vezes nos comportamos perante a nossa própria identidade como se fossemos animais irracionais? Zangamo-nos, pomo-nos de castigo, damo-nos miminhos ou felicitamo-nos por algo que tenhamos feito como deve de ser… mas muitas vezes não passamos de uma abordagem básica, não procuramos o porquê das coisas, não analisamos os nossos actos e as suas consequências…

Na minha opinião, para sermos felizes, precisamos de ter uma coluna vertebral sólida mas maleável e um cérebro funcional e aberto.
Não interessa o que os outros pensam de nós mas dá jeito termos em conta o seu feed back, para analisarmos a nossa postura perante a vida e tirarmos as nossas próprias conclusões.
Face a isto estamos sempre a tempo de mudar, espera-se que para melhor, de alterar a nossa maneira de ser.
O que me parece realmente importante é levarmos a vida conscientemente e sermos alguém de quem gostamos muito e a quem tratamos bem. Podemos ser quem quisermos.





segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Inércia, a filha do Demo…

COM MÚSICA

Ficou decidido que faríamos um “Grande Jantar” do nosso sitezinho por ano…
Quando, meses antes do último, lancei uma sondagem para saber quantos seríamos ao certo, por forma a orçamenta-lo, cerca de 500 pessoas demonstraram intenções de participar. No último dia dos pagamentos estavam esses inscritos, como previsto, mas menos de 300 jantares estavam efectivamente pagos. Para minimizar estragos aceitei pagamentos até à véspera, mesmo assim não chegámos aos 400.
O dito cujo acabou por ser um fiasco da pior espécie, daqueles que ninguém esquecerá tão cedo…
Se me perguntarem a mim, que não percebo nada destas coisas, acho que preferia perder dinheiro a perder “nome”. A realidade é que mais de vinte por cento das pessoas que tinham confirmado presença se baldaram, o que significa um rombo do mesmo valor no orçamento.
A organização deste jantar não foi fácil…
Houve problemas com o local e, enquanto supostamente gozava tranquilamente as minhas idílicas férias nas Maldivas , trocava stressantes mails para tentar resolver o assunto.
Durante semanas pus parte da minha vida em pausa, por forma a conseguir dar vazão a pagamentos e confirmações.
No fim ainda tive direito a um que outro “simpático” mail, a “agradecer” a excelente organização…

Deste verdadeiro desastre, a única coisa que se aproveitou foi a festa que se lhe seguiu. Decidi então repetir, o que gerou grande entusiasmo.
Mais uma vez a organização começou com um amargo de boca , no entanto tudo acabou por se compor e estava a correr bem.
Na antevéspera, no entanto, recebo o forward de um mail a convidar para uma festa, no mesmo sítio (teoricamente reservado para nós), no mesmo dia, há mesma hora.
Passo o dia seguinte em troca de mails e telefonemas com os vários responsáveis, parto a loiça toda, mas lá acabo por recuperar a promessa de exclusividade da noite. Exclusividade essa que estava dependente de um número mínimo de participantes, este já assegurado pelas inscrições no evento.
Se apareceram cinquenta pessoas já foi muito… aquilo estava ás moscas e já nem sabia como encarar o dono do Bar, depois do pé de vento que tinha levantado.

Estão mais de 3.500 pessoas inscritas no site… porque não aproveitar essa ferramenta fantástica para estender a mão ao próximo, para fazer alguma diferença neste mundo tão indiferente? Por várias vezes já conseguimos provar que a união faz a força…
Mas também fomos criticados por isso, por alguns que se incomodam com os nossos apelos.
A realidade é que, não sendo o objectivo principal daquele site, não me sinto no direito de os importunar com temas a que potencialmente não sejam sensíveis. Decido então criar um grupo para o efeito, para poder comunicar com os que estão para aí virados sem para isso incomodar os outros.
Divulgo a ideia através de todos os meios ao meu alcance e hoje em dia estão 208 pessoas inscritas, pouco mais de 5% dos membros…
Será que todos os “ausentes” se estão nas tintas para o próximo?
Eu SEI que não, conheço alguns pessoalmente e sei que não… simplesmente, por alguma razão, não julgaram pertinente inscreverem-se.

Lancei duas grandes iniciativas este Natal; a ajuda à nossa ex-colega cuja casa ardeu e um leilão de arte para ajudar os artistas do nosso Sitezinho, qualquer uma das duas amplamente divulgada.
Como disse estão cerca de duzentas pessoas inscritas no tal grupo, os “Anjos da Guarda”…
A causa do incêndio recebeu pouco mais de duas dezenas de contribuições em dinheiro e não devem ter chegado a uma dúzia as pessoas que ajudaram com bens.
Quanto ao Leilão… nem quero pensar no desastre que está a ser. A meio caminho do fim, a obra mais licitada recebeu quatro licitações inteirinhas…
Qualquer destas duas iniciativas requereu algum esforço da minha parte, dispêndio de tempo, empenho. Isto já sem falar da expectativa dos respectivos beneficiários…

O site proporcionou-me excelentes exemplos, mas poderia arranjar muitos mais, inclusivamente de natureza mais pessoal.
Não o vou fazer porque na realidade acho que o fenómeno não tem nada a ver comigo, acontece a qualquer um.
Em qualquer dos casos citados, havia nitidamente potencial para o que se pretendia fazer, foi demonstrado interesse, entusiasmo até … pela reacção inicial das pessoas ás várias propostas, pareciam ser boas ideias.
Julgo não estar iludida a esse respeito e, se alguma vez for o caso, agradeço que em vez de alinhar comigo me abram os olhos.

É que levar certas tarefas avante, por muito que voluntariamente, por muito que se acredite nelas, custa, sai-nos do pelo.
É certo que o que mais interessa não é a quantidade mas a qualidade e essa tem sido top, como se costuma dizer, temos sido “poucos mas bons”…
Não deixa de ser uma grande frustração tanto potencial desperdiçado e tanta energia gasta para desfechos tão pobrezinhos.

Sim, alguns terão excelentes razões, falta de tempo, de dinheiro, de disposição, problemas pessoais e afins… mas muitos, muitos mesmo são na realidade acometidos de INÉRCIA, essa malfadada filha do demo… e o resto são conversas.
Perante a quantidade de gente a sofrer do mesmo mal, no que diz respeito a iniciativas, ás vezes só me apetece baixar os braços e dizer como a senhora da canção… I quit, I give up…





segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Friends will be friends...

COM MÚSICA


Dois acontecimentos muito recentes despoletaram em mim as seguintes reflexões, que achei interessante partilhar convosco…

O primeiro foi a afirmação de uma cunhada minha, uma das justificações para “renegar” o Facebook (lol) de que, se não tinha uma relação ao vivo e a cores com as pessoas, não fazia sentido tê-la online e que se tinha, então também não fazia sentido tê-las online.
Afirmou igualmente que se uma amizade esmorece, se as pessoas se afastam, por alguma razão é, não fazendo portanto qualquer sentido a possibilidade de reencontro.

O outro foi o relativamente longo (já trocámos maiores…) email, que enviei a um amigo. Dei por mim a pensar… “que tristeza, como a vida muda… tempos houve em que trocávamos mails destes quase numa base diária e agora não nos “falávamos” há tanto tempo… “a minha vida é um inferno” (que me desculpem os que desconhecem a “private joke” mas não resisti…lol)… já não tenho tempo para nada… “

Bem… começando pelo fim…
Sim, o dia só tem 24h e a semana 7 dias, logo geralmente não conseguimos arranjar tempo para fazer tudo o que gostaríamos.
Mas pensem numa questão… se não temos tempo para fazer alguma coisa é porque estamos a fazer outra, certo?!
Alturas há em que o que fazemos não é propriamente gratificante, estou consciente disso. Mas a realidade é que, se em detrimento de outras, estamos a fazer uma coisa, por alguma razão é. Porque escolhemos fazê-la, para nosso interesse, seja em que campo for.

O nosso tempo divide-se entre funções como comer, beber e dormir, trabalhar, confraternizar, dedicar-se à família, a um hobbie, etc…
Geralmente estas actividades estão separadas em termos espácio-temporais, embora de vez em quanto conciliemos algumas delas. Podemos, por exemplo, trabalhar com o marido/mulher, jantar com amigos, fazer desporto profissionalmente, etc.
Uma coisa é certa, enquanto estamos a fazer algumas coisas não estamos a fazer outras.
Partindo do princípio que todos nós consigamos arranjar algum tempinho para fazer algumas de que gostamos e dado que esse “tempinho” não é infinito, temos de fazer opções.

O que me leva ao ponto da “tristeza” de já não me corresponder com a mesma frequência com o meu amigo…
Os amigos, pelo menos na minha opinião, não têm de estar sempre ao nosso lado. Não precisamos de comunicar regularmente, seja de que forma for, com eles.
As circunstâncias da vida levam a que, em certas fases, o façamos mais com uns do que com os outros.
Quantas vezes, por força das circunstâncias, não nos damos regularmente com pessoas por quem não temos grande apreço, enquanto que estão muito mais afastadas outras que nos são realmente caras.

As pessoas que estão à nossa volta, em determinados momentos, não dependem unicamente de uma escolha. Tal como os veleiros as amizades também dependem do vento. A perícia de não as deixar naufragar é que poderá depender dos marinheiros.
Há pessoas relativamente ás quais a frase “longe da vista, longe do coração” se aplica. Mas com outras isso dificilmente irá acontecer. Podemos falar-nos ou ver-nos quando o rei faz anos, mas a ligação continua lá. De vez em quando lá se faz o gostinho ao dente ou, quem sabe, vira o vento…

O que nos traz ás teorias sobre o facebook e afins, não podia estar mais em desacordo.
Há muitos tipos de relações entre as pessoas e algumas não são ao vivo e a cores, não senhores.
Quem não se lembra dos nossos pais desesperados por não desligarmos a porcaria do telefone?
Hoje em dia há muito mais ferramentas de comunicação ao nosso dispor, apareceram os SMSs, os mails, os chats, as social networks… qualquer delas perfeitamente válida para confraternizar quando, por qualquer razão, nos vemos impedidos de o fazer presencialmente.
São talvez mais inibidores, para quem se intimida com as “novas tecnologias”, mas vão todos, de certa maneira dar ao mesmo, o contacto humano.
“Não renegue à partida uma ciência que desconhece!” lol

Se não nos damos ao vivo e a cores não vale a pena ter uma relação “virtual”? Discordo.
Estou de acordo que as relações frente a frente, olho no olho, têm muito mais calor humano, sem dúvida. Para lá tenderá de qualquer maneira a apontar qualquer amizade.
Mas, seja com amigos antigos, amigos recentes ou potenciais amigos, é muito mais fácil alimentar a relação se houver um contacto virtual.
Já várias vezes pude comprovar, inclusivamente, que relações que começaram “virtualmente” se podem transformar em fortes amizades de carne e osso.
Algum de vocês tem vida para se encontrar regularmente frente a frente com todos aqueles com quem gostaria de o fazer? Então… no virtual vai-se matando saudades, partilhando o dia a dia.

E quanto ao “se nos afastamos por alguma razão foi…” é certo. Por alguma razão foi. Até pode ter sido por escolha, de um lado ou de outro.
Mas embora, por razões várias, as pessoas se possam afastar (ás vezes por muitos e longos anos), embora possam seguir caminhos totalmente separados, ás vezes quando se reencontram parece que o tempo não passou. E acreditem que se há coisa que nos trás um quentinho bom ao coração, se tivermos a sorte de nos reencontrar no mesmo comprimento de onda, é o reatar com alguém do nosso passado, porque nos sentimos em casa.

Alguns ainda não viram a luz (lol), ainda não perceberam nada… mas as relações humanas são das coisas que mais nos ajudam a ser felizes…

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Movies

COM MÚSICA


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Há pessoas que não conseguem impedir-se de fazer “filmes”… (e não estou a falar do Spielberg...lol)
Por fazer filmes, entenda-se criar realidades que só existem nas suas cabeças.
Este fenómeno pode atingir vários níveis de fantasia e respectiva gravidade.
Há por exemplo quem tenda a interpretar muito livremente actos ou palavras alheios, chegando assim frequentemente a “conclusões” totalmente infundadas. Há quem exagere/altere de tal forma as informações que lhe chegam que quando as transmite já sai uma história completamente diferente. Há quem simplesmente invente histórias sobre si próprio ou sobre terceiros.
Tenho infelizmente uma vasta experiência em lidar com casos destes. Vários membros da minha família sofrem (ou sofriam, que alguns já cá não andam) deste mal.
“Mal” porque não me parece uma atitude minimamente saudável. Muitas vezes convencem-se inclusivamente de que as coisas são efectivamente como as imaginaram/disseram, isto só pode ser patológico.
Infelizmente, porque não é fácil lidar com gente assim, pelo menos numa base regular. Nunca sabemos que crédito lhes havemos de dar. Estamos constantemente “de pé atrás” com elas e a história do pastor e do lobo acaba invariavelmente por acontecer mais cedo ou mais tarde.
Não faço ideia se há alguma esperança de “cura” para este tipo de pessoas. Os casos que conheço foram assim toda a vida. Nunca nenhum reconheceu o seu “problema”, condição cinequanon para tentar resolver as questões, apesar de o conseguirem identificar em terceiros. Não tenho em todo o caso conhecimentos, em termos de psicologia, para tentar analisar ou dissertar sobre o seu caso.
A questão aqui é que estas pessoas “mexem” com os outros. As histórias que inventam frequentemente envolvem terceiros, chegando por vezes ao nível da calúnia. É possível que, se delas tomarem conhecimento, estes se sintam agredidos, irados, revoltados.
E a realidade, minha gente, é que a maior parte das vezes as coisas acabam por nos chegar efectivamente aos ouvidos. Como se costuma dizer, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. ;)
Mas há alguma coisa que possamos fazer para as impedir?
Esqueçam, não há controle ou prevenção possível. Elas caem de onde menos se espera apanhando-nos completamente de surpresa.
Se soubemos delas, não foi geralmente pelos próprios, não faria grande sentido. O que nos leva ao “ai Jesus o que vão pensar de mim”… lol
Pois irão pensar o que muito bem entenderem, não há grande volta a dar. Se for alguém que nos conheça bem poderá tentar averiguar directamente a questão. Se for alguém que nos conheça mal, ou não conheça de todo, irá tirar as suas próprias conclusões com base no que lhe foi transmitido. E quanto a isso, batatas.
É grave? Ás vezes é mais, ás vezes é menos… mas contra factos não há argumentos, há que aprender a viver com esse “risco”.
Pensem nos famosos, na quantidade de aldrabices que se dizem/escrevem constantemente a seu respeito. Havia de ser bonito se isso os impedisse de dormir…
Para vos dar um exemplo concreto, anos volvidos sobre o assunto, descobri que, aquando de uma das minhas separações (sim, tive muiiitas…lol), eu tinha “limpo” a casa ao respectivo em questão. É verdade… coitado, meteu chave à porta e só encontrou as paredes, deve ter sido um choque daqueles.
Confesso que já nem me lembro de onde me chegou a informação, mas lembro-me que foi de uma fonte totalmente inesperada, alguém que eu nem sequer conhecia na altura, tipo “ah, então foste tu que…”
Conclusão, neste momento há de haver, não faço ideia de quantas pessoas, convencidas do que acabei de contar. Eu própria já tinha ouvido esta história várias vezes, mas nunca atribuída à minha pessoa… lol
E acham que me ia chatear com o assunto?
Os que me conhecem sabem bem do que sou e não sou capaz. Os que não me conhecem se calhar, depois disto, ficam sem grande vontade de conhecer, paciência. ;)
Por outro lado, se fosse caso disso, se alguma coisa importante estivesse em jogo, sempre se poderia tentar elucidar a questão. Não me parece no entanto caso para ajuste de contas ou desmentidos no jornal. lol
Há de haver muita tanga a circular a respeito de cada um de nós. Sabemos de algumas, outras passam-nos completamente ao lado. Umas vezes conseguimos elucidar as pessoas, outras passamos pelo que não fomos. O que é realmente importante é que nos mantenhamos fieis a nós próprios e não demos importância ao que possam pensar de nós. Assim como assim, até sem estas histórias há de sempre haver quem pense “mal”. ;)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

HELP!

COM MÚSICA


Esta vida não é nada fácil… também ninguém nos prometeu que seria… no entanto, se nos apoiássemos uns nos outros nos momentos de crise, as coisas tornar-se-iam garantidamente muito mais suportáveis.
Descubro no entanto, com uma certa tristeza confesso, que não só não há muita gente disposta a “servir de apoio”, como muita gente simplesmente não aceita “apoiar-se”.
Assim as coisas tornam-se mesmo muito complicadas, não é fácil enfrentar o mundo sozinho.

Começando pelos primeiros…
Grande parte das pessoas que conheço dará uma moedinha ao arrumador ou fará uma contribuição para um peditório de rua. São coisas imediatas, que não requerem qualquer esforço da sua parte. No primeiro caso será inclusivamente talvez ás vezes uma atitude egoísta por não quererem arriscar-se a voltar e descobrir um risco na biatura…
Mas quando se trata de realmente estender a mão ao próximo, existe uma inércia por vezes desesperante.

Tomemos mais uma vez como exemplo o site do Liceu Francês…
Os encontros e reencontros de pessoas que frequentaram uma mesma escola são o seu objectivo principal. Mas as Social Networks são ferramentas potentíssimas, podendo servir variadíssimos propósitos.
Achei que um deles poderia ser a solidariedade, porque não?
Já proporcionámos um natal aconchegadinho a uma senhora que vendia castanhas à porta, ajudámos uma ex-aluna a ganhar um telhado, divulgámos a causa da Marta, votámos num arquitecto com projecto a concurso em Nova Iorque…
Apesar de muitos estarem para aí virados, não o estaremos garantidamente todos e, não sendo o objectivo principal da rede, sempre me recusei a enviar este tipo de apelos como comunicação para todos os membros, ferramenta que tenho ao meu dispor.
Decidi então criar um grupo, “Os Anjos da Guarda”, por forma a poder contactar com o núcleo interessado sem incomodar os outros. Enviei um único mail a avisar da existência e propósito do mesmo.

Recebi uma série de respostas “simpáticas”, como uma que rezava assim: “Para uma acção isolada desculpará que me escuse mas se pensar em algo que combata o subdesenvolvimento endémico, conte comigo.”
Yá... quando descobrir a solução para a fome no mundo eu apito, tá?!
Destes nem vale a pena falar…
A realidade é que somos 3.569 membros e estão neste momento 206 inscritos… não chega a 6% !!!

Será que se está tudo a cagar para o próximo? Duvido…
Alguns não terão recebido o mail, outros não o terão lido, uns não devem ter percebido do que se tratava dado que lêem tudo na diagonal e outros estarão para se inscrever logo que “tenham tempo”… e mais desculpas haverá. Desculpas, justificações, razões… o que lhe queiram chamar.
Sei no entanto que entre eles há muito boa gente. Sei-o, quanto mais não seja porque alguns são meus amigos, conheço-os bem, sei do que são capazes… mas não estão inscritos.

Acredito que a tal inércia de que falei de início seja a razão… A não ser que o umbigo alheio lhes entre pela vista a dentro, como se de uma lap-dance se tratasse, simplesmente não se mexem.
Descuram, a meu ver, o potencial deste tipo de atitudes para nos fazer sentir bem. Ajudar altruisticamente não traz benefícios só aos outros, gera um quentinho cá dentro.

Outros sentem-se demasiado miseráveis e eles próprios carentes de ajuda, para poder ajudar terceiros. Consideram que uma ajuda ou é “de peso” ou não vale a pena, esquecendo-se talvez de que a intenção também conta muito, de que “quem dá o que tem, a mais não é obrigado”.
A ajuda não é obrigatoriamente financeira, podemos ajudar de variadíssimas maneiras… ouvindo, confortando, doando o nosso tempo, bens que possamos dispensar… há tantas formas de ajudar. Mas mesmo no que diz respeito a guito, carcanhol, ponhé, “grão a grão enche a galinha o papo” e se muitos contribuírem com pouco rende mais do que se poucos contribuírem com muito.
Imaginem que cada membro do nosso sitezinho contribuísse com um euro… impressionante não é?!




Passando agora aos segundos…
Muitos sentem vergonha, embaraço, pelo facto de aceitar ajuda, preferem ir orgulhosamente para o buraco, “de cabeça erguida”, do que agarrar uma mão amiga. Como se dela ter necessidade fosse sinal de fraqueza. Ou talvez por não conseguirem suportar a ideia de ter uma “dívida” de gratidão.

Mais uma vez, se for uma coisa obvia, uma aflição imediata, se calhar fazem-no… durante o naufrágio o Titanic fartou-se de mandar SOS… e quem não ouviu já na rua um grito de “agarra que é ladrão…”?
Mas se se tratar de uma situação prolongada, de uma questão social, vêm ao de cima uma série de questões castradoras. As pessoas simplesmente não gostam de assumir que sozinhas será muito difícil safarem-se.

Usando mais uma vez o exemplo do nosso sitezinho, propus este ano o “Projecto Pai Natal 2009”. A ideia era ajudar alguém do site que que estivesse numa situação complicada.
Durante semanas não apareceu nenhuma causa.
Finalmente uma rapariga (uma pessoa mais ou menos da minha idade ainda é rapariga, não é?...lol) “chegou-se à frente” e apresentou-me a sua situação.
Este verão a casa dela ardeu completamente. É viúva, tem quatro filhos e ficaram todos com a roupa que tinham no corpo. Ganha cerca de mil euros por mês e não há qualquer garantia de que o seguro vá pagar seja o que for.

Mas estava com vergonha de falar, não queria dar a cara, segundo as suas próprias palavras não queria ser “a pobre desgraçada”…
Mas será que o que lhe aconteceu não foi efectivamente uma desgraça? Será que não é digna de compaixão? Alguém se julgará imune a acidentes ? É alguma vergonha?
“Pecado” seria, na minha opinião, ter uma série de gente a estender a mão e não a agarrar, virar costas ao pouco de bom que lhe apareceu pela frente nos últimos tempos. Isso sim seria uma vergonha.

Quem faz pela vida não tem de ter complexos desses. Muita gente se vê aflita devido a circunstâncias que não são da sua responsabilidade. Aceitar ou mesmo pedir ajuda é um acto de sobrevivência, demonstra força e não fraqueza. Mostra que estamos dispostos a lutar pela nossa felicidade em vez de enfiarmos a cabeça na areia como a avestruz e ficarmos a remoer com pena de nós próprios. Possibilita-nos de futuro virmos a fazer o mesmo por outros, com dignidade e conhecimento de causa.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

I'm Sorry...

COM MÚSICA

Todos nós, ocasionalmente, de uma forma ou de outra, com mais ou menos gravidade, causamos dano a terceiros.
Este pode derivar de negligência, de atitudes irreflectidas, de pressões externas como o stress, por exemplo, de falhas de julgamento, de carácter, etc…
Existe evidentemente a hipótese de ser consciente e voluntário, mas sobre esta categoria não me vou sequer dar ao trabalho de falar…

Não há, infelizmente, grande volta a dar… errar é humano e, eventualmente, acaba por acontecer.
Enquanto não inventarem a maquina do tempo, o que está feito não pode geralmente ser desfeito e o mais que podemos tentar é minimizar os estragos.
Embora, consoante os casos, possa haver muitas formas de o fazer, há uma, tantas vezes desprezada, que opera milagres: o pedido de desculpas.

Não deixa de me admirar a extrema dificuldade que algumas pessoas têm em fazê-lo, como se de uma humilhação se tratasse, de um rebaixamento, de uma machadada no seu orgulho.


Para começar, ao pedirmos desculpa, demonstramos arrependimento pelo acto que cometemos. Damos a conhecer que estamos conscientes do dano que causámos e que queremos, dentro da medida do possível, repara-lo. Denota também consideração, compaixão, pelo indivíduo em questão. Fá-lo saber that we care

Se chegámos a este ponto, significa também que reflectimos sobre o assunto, que não passámos pelo evento como cão por vinha vindimada. Que analisámos o nosso grau de responsabilidade e estamos dispostos a assumi-la.
Isto é excelente para que não repitamos os mesmos erros. Se taparmos o sol com a peneira e fizermos de conta que não é nada connosco, o mais provável é que em situação semelhante voltemos a ter a mesma atitude.

Por outro lado, se não o fizermos, iremos certamente gerar mágoa, ressentimento. Ninguém gosta de se sentir agredido, injustiçado. O que muitas vezes poderia passar rapidamente e sem mais incidentes, pode adquirir proporções desmesuradas, prolongar-se durante muito tempo sem qualquer necessidade.

Quando alguém se sente “atacado” tende a usar o contra ataque como defesa, a tornar-se intolerante para com o “agressor”, a ignorar empatias e simpatias para só ver os aspectos menos agradáveis do individuo em questão. Pode inclusivamente tornar-se tendencioso e ele próprio injusto.

Ao contrário, quando são demonstrados arrependimento e vontade de reparação, é frequente que a pessoa “lesada” se disponha inclusivamente a assumir a sua eventual parte de responsabilidade no acontecido. Palavra puxa palavra, desculpa puxa desculpa. Como se costuma dizer, “a falar é que a gente se entende”.

Os pedidos de desculpa não precisam obrigatoriamente de ser imediatos. Aliás, a maior parte das vezes isso nem é possível, visto não nos apercebermos logo da extensão do acontecido. Precisamos geralmente de um certo recuo para nos darmos conta de que realmente metemos a pata na argola.
No entanto, quanto mais depressa o fizermos, mais depressa desembrulharemos a situação. Menos crescerá o azedume, o amargo de boca da outra parte.
Mas é uma coisa que não passa de prazo, que pode ser feita anos passados, inclusivamente, caindo sempre bem. Mais vale tarde que nunca…


Imaginem que estes actos são feridas que infligimos a outrem...
Causam dor e mau estar. Se não forem tratadas, poderão infectar. Ao infectar irão causar mais dor ainda. Todo o tipo de complicações poderá surgir em consequência desse desleixo. Poderão inclusivamente deixar cicatrizes feias.
Se, por outro lado, lhes for dada atenção, se forem aplicados os devidos cuidados, o mais provável é que a coisa se cure naturalmente sem sequelas.
Agora pergunto, qual é a atitude mais sensata e inteligente?


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tempestade em copo de água

COM MÚSICA


Nos últimos dias o “caso Maitê Proença” entrou-me pela vida a dentro, sem pedir licença, como não me lembro que alguma notícia (?) o tenha feito desde o 11 de Setembro…

Recebi dezenas de mails sobre o assunto … dezenas!!! No facebook a mesma coisa, rara foi a vez em que o abri que não houvesse alguma alusão ao tema. Ao levar o meu filhote à escola, ouvi o pedido de desculpas na rádio. Li sobre ela num blog amiguinho. Falou-se disso em ocasiões sociais. Sei que até na televisão passou…

Tanto portugueses como brasileiros gastaram horas de vida a divagar sobre o assunto.
Deram-se ao trabalho de escrever textos, de deixar comentários aqui e ali, chegaram ao ponto de elaborar vídeos de resposta, o Youtube está cheio deles.

Tudo isto ainda era como o outro, se não têm mesmo nada mais interessante que fazer, não fora a natureza violenta, tanto no conteúdo como na forma, da maior parte das demonstrações de desagrado a que tive acesso.
Li e vi coisas que me chocaram e acreditem que não me choco com facilidade… insultos, palavrões, agressões verbais do mais baixo nível e até ameaças.


Grande parte não era dirigida só à senhora (?) em questão mas a todo o povo brasileiro. Povo este que também reagiu… uns com vergonha, com pedidos de desculpa, outros pagando na mesma moeda.

Desculpem mas não acho isto normal… o que se passa com o mundo?
Só uma pessoa acéfala filmaria, em primeiro lugar e deixaria ir para o ar seguidamente, uma peça daquelas. Só uma pateta faria um pedido de desculpas tão desenxabido.
E milhares de pessoas entram em ebulição?! “Aquilo” tem o poder de desencadear isto?!

Lamento mas não pode ser tudo por causa do filme… o filme é uma desculpa, um pretexto para deixarem sair livremente toda a raiva, toda a fúria que têm dentro de si.
Se toda essa energia fosse utilizada em defesa de boas causas, como o mundo poderia ser um sítio mais agradável. Mas pelos vistos o ser humano mais facilmente destrói do que constrói, que pena…

domingo, 11 de outubro de 2009

Emoção e razão

COM MÚSICA

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É inegável a monumental evolução sofrida pela humanidade ao longo dos tempos. O homem conseguiu feitos prodigiosos e sem qualquer dúvida mudou o mundo. Pergunto-me no entanto se haverá um paralelo a nível individual… se o homem do século XXI será assim tão diferente do da idade média… Auto-denominamo-nos “animais racionais”, mas julgo que a maior parte das pessoas use muito pouco essa racionalidade no seu dia a dia. Parece existir a convicção de que certas coisas, por partirem do nosso lado emocional, simplesmente não são controláveis. Permitam-me discordar… Li algures que a diferença entre nós e os animais ditos irracionais é a consciência teórica, a capacidade de imaginar o futuro e muda-lo com atitudes no presente. Todos estamos conscientes da acção/reacção, atitude/consequência, causa/efeito… mas poucos se dão conta de que isto é válido para todos os nossos actos, todas a nossas atitudes perante a vida. A racionalidade não é geralmente muito bem encarada. É frequentemente associada a frieza, calculismo, oportunismo, parece que o homem, de certa forma, se envergonha da sua capacidade de “somar dois e dois” e a renega como se isso o desumanizasse o que, convenhamos, é um bocado contraditório.
A realidade é que há emoções, sentimentos, que são invariavelmente danosos, de uma forma ou de outra e que, se fossem controlados por cada um de nós gerariam uma humanidade sem dúvida muito mais harmoniosa. Notem que não estou de todo, mas de forma alguma, a rejeitar as emoções em geral. Antes pelo contrário, acho que devemos, no que é benéfico, deixar fluir os sentimentos, partilha-los, abraça-los. Na minha opinião “sentir” é bom, muito bom, não acho que devamos fechar-nos numa carapaça de insensibilidade para com o mundo. No entanto, como referi, certos sentimentos levam ás vezes a atitudes irracionais, irreflectidas, que acabam no fundo por só prejudicar, a nós e/ou aos outros. Se nos permitirmos analisa-los, estuda-los de cabeça fria, chegaremos muitas vezes à conclusão que manter certas emoções à rédea curta só nos irá trazer benefícios. A maior parte de nós cresceu num mundo com uma visão romântica da vida. Só para dar alguns exemplos, sentimentos como a honra, o orgulho, o ciúme, a paixão cega são, não só aceites, como muitas vezes exaltados. Há não tanto tempo como isso, faziam-se duelos em defesa da honra, quantos homens não perderam a vida para não perder a face socialmente… Ouve-se frequentemente a afirmação de que alguém não aceita ajuda por ter o seu orgulho, preferindo penar a aceitar uma mão amiga… Os crimes passionais são geralmente encarados com uma certa indulgência, embora penalmente não seja atenuante, sê-lo-á possivelmente na cabeça de muita gente… Há quem viva infeliz toda uma vida em nome de uma paixão, quem desista de tudo e de todos por causa e um amor que na pratica, no dia a dia, não lhe trás qualquer satisfação… Alguma destas coisas vos parece fazer sentido? Claro que fui buscar exemplos caricaturais, extremos, mas só para tentar explicar o meu ponto de vista. Usando um mais concreto, em conversa privada, relativamente ao meu último post , um amigo afirmou que para ele, a questão de como lidar com uma atracção por outra pessoa, nem sequer se punha. O simples sentimento seria considerado como traição e ditaria o fim da relação existente. Ou seja, sem margem para dúvidas, sem espaço de manobra… vendo-se na situação descrita a coisa a fazer seria mandar tudo às urtigas e dizer adeus. Na minha opinião, as coisas boas que temos na vida são para se agarrar com unhas e dentes, para se defender com todas as armas ao nosso dispor, e o nosso cérebro é sem dúvida alguma uma delas. Como seres humanos que somos, sentimos… e ás vezes sentimos o que não devíamos, mas não estamos por isso condenados, não temos de baixar os braços e desistir, considerar-nos vencidos, podemos lutar contra sentimentos indesejados. Talvez não possamos cala-los, talvez não possamos ignora-los, mas podemos racionaliza-los e agir de forma a que causem o menor dano possível. E isto é válido para qualquer sentimento que nos consuma sem trazer nada de bom, para o ciúme, para a raiva, para a inveja, para a vingança... Talvez não possamos impedir que apareçam, mas podemos certamente controla-los. Podemos estimular em nós os sentimentos positivos, aqueles que trazem harmonia à nossa vida e à dos que nos rodeiam e manter à rédea curta os que não servem senão para trazer problemas. O nosso cérebro permite-nos fazer isso, basta acreditar que seja possível. Claro que não é fácil, os nossos instintos são muito fortes. Requer treino, implica tentar e falhar e voltar a tentar. Mas se partirmos do principio de que não é possível, não iremos com certeza chegar a lado nenhum. Errar é humano, não há formulas mágicas, não há milagres, não há certezas nem verdades absolutas… iremos certamente meter o pé na argola, a pata na poça, muitas vezes ao longo do caminho. Mas se tivermos em vista a tal “capacidade de imaginar o futuro e muda-lo com atitudes no presente” iremos cada vez mais ter atitudes sensatas, que nos levem a bom porto. Fazendo um paralelo, ao trazermos um cão para casa, sabemos que teremos de treina-lo. Se não o fizermos irá naturalmente fazer as suas necessidades por todo o lado, roer os móveis, etc… tornando o convívio insuportável. Não o privando da sua essência iremos então tentar que se adapte de forma agradável à nossa vivência. Porque não fazê-lo também relativamente a nós próprios perante a vida?
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tentações do diabo...

COM MÚSICA


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Por muito bem que estejamos numa relação sólida, estável, duradoira e satisfatória… não nos safamos a uns abanões de vez em quando.
É natural e julgo que aconteça a qualquer um, once in a while.
O diabo (lol) tenta-nos e cabe-nos manda-lo àquela parte.
Claro que isso implica sérios conflitos entre emoção e razão, mas com jeitinho faz-se. ;)
Mantemos ao longo da vida dezenas de relações perfeitamente inócuas e um dia, quando menos esperamos, aparece-nos à frente alguém que faz tilt.
De repente damos por nós com pele de galinha quando nos cumprimentamos, sentimos um calorzinho na base dos rins e surpreendemo-nos a fantasiar com cambalhotas em vale de lençóis.
É relativamente fácil virar costas quando o “objecto do desejo” não nos diz mesmo mais nada, quando se trata de uma atracção puramente animal.
Se não tivermos nada em comum, dificilmente poremos em risco a nossa situação actual a não ser, evidentemente, que esta já estivesse anteriormente em crise.
A porca torce o rabo é quando existem empatia, interesses comuns, admiração, etc…
A imaginação começa a vomitar “Ses” que, degenerando em sentimentos, podem ser muito perigosos.
O facto de simplesmente nos colocarmos a questão de um potencial relacionamento poder dar certo, faz imediatamente disparar a sirene de alerta.
Se a pica pertencer à primeira categoria, cortar o mal pela raiz e deixar de ver a pessoa em questão pode dar certo… Longe da vista, longe da tentação…
Mas no segundo caso esta solução é dúbia. Se fugirmos nunca havemos de saber… e o não saber é um suplício terrível. Então o que fazer?
No geral, quando conhecemos alguém que à partida nos agrada, temos tendência a deixar-nos encantar, a ver sobretudo o seu lado atraente, agradável, os pontos que temos em comum.
Só mais tarde, através de um conhecimento mais aprofundado, irão surgir os “podres”, tudo aquilo que nos desagrada.
Muitas vezes chegamos então à conclusão de que estes são impeditivos para uma relação. Infelizmente, tantas vezes tarde demais… lol
O truque é, na minha opinião, tentar descobrir esse “dark side” quanto antes.
Pormos um açaime no desejo, mas não fugirmos, não taparmos o sol com a peneira, antes pelo contrário.
Tentarmos, durante o convívio, estar mais atentos aos “defeitos”, àquelas pequenas coisas que provavelmente nos iriam repelir, mais tarde ou mais cedo mas que, tendencialmente, nos recusamos a ver de início.
No fundo irmos conhecendo o outro a partir de uma distância segura e tendo sempre em mente toda a objectividade possível.
Felizmente (no que diz respeito ao assunto em questão) the odds estão a maioria das vezes contra nós. Não é fácil encontrar alguém com quem possamos ter um relacionamento saudável, basta ver a taxa de divórcios… lol
Um envolvimento amoroso tem muito que se lhe diga e, embora este tenha sem qualquer dúvida a sua importância, o sexo está longe de ser o factor mais importante.
Se o pusermos de lado, poderemos então olhar para o que realmente conta, passada a fase da “tesão do mijo”.
Se estamos numa relação duradoira por alguma razão é… (claro que podemos ser masoquistas, mas isso é assunto para outro post…lol).
A maior parte das pessoas passou anteriormente por outras relações e descobriu, por experiência própria, a treta em que se podem transformar…
Quais são as hipóteses de nos sair na rifa outra que valha a pena? É uma questão de probabilidades… e estas não estão propriamente a favor do romance cor de rosa…
É caso para dizer: get real!!!
(que me desculpem os grandes defensores das paixões… ups)
Dir-me-ão que não é fácil… pois que não é.
Os afogueamentos que nos atormentam nestas situações são geralmente pujantes, com tendência a toldar o raciocínio e dar vontade de mandar tudo ás urtigas.
Mas por alguma razão somos apelidados de animais racionais… é uma questão de nos protegermos, de colocar-mos um filtro para não nos deixarmos encandear. De obrigarmos o nosso discernimento a ser permeável à critica, em vez de a refrear como é a tendência natural.
Dê-se portanto tempo ao tempo… hipótese de conhecimento mutuo… e muito provavelmente ao fim de algum tempo já será possível dizer… “pronto, pronto… já passoooou!”
Na hipótese, extremamente improvável, de não ser o caso… batatas… ao menos já não se vai ao engano. ;)

domingo, 27 de setembro de 2009

O voto

COM MÚSICA


Acho que é desta que vou ser linchada… lol
Ora bem, deixem-me respirar fundo e baixar a cabeça para enfrentar as bastonadas, antes de começar a escrever este post… cá vai vai então…

Está a fazer-me muita confusão a verdadeira onda de violência verbal que tenho presenciado nestes últimos tempos relativamente à abstenção nas eleições…
Eu hoje fui votar… tenho quarenta e quatro anos e deve ser a quarta ou quinta vez que voto…
Fui votar e ofereci o meu voto a um amigo… não a um político, a um cidadão como eu e você… lol
Porque não? Se posso oferecer prendas… se posso oferecer tempo… porque não haveria de poder oferecer o meu voto?
Votando, seria provavelmente onde votaria de qualquer maneira, mas a realidade é que só me desloquei por causa dele, porque sabia que para ele era importante.

Não costumo votar porque vivo no mundo da lua, vivo completamente a leste de todas as politiquices nacionais e internacionais, não leio jornais, não vejo televisão.
Se esta é uma atitude positiva ou não, seria tema para outro post, mas estou aberta a todo o tipo de críticas construtivas a este respeito.
Eu sou simplesmente assim, não consigo ir a todas e a minha vida é uma coisa assim mais “caseirinha”. Ás vezes pergunto-me se não serei intrinsecamente loira mas a realidade é que I don’t give a damn. Não me tenho dado mal e, até alguém me convencer de que estou profundamente errada, não vejo razões para mudar.

Dir-me-ão que sou uma completa idiota, que o resultado das votações tem tudo a ver comigo, que a política, que tão levianamente renego, irá entrar pelo meu dia a dia adentro e afectar-me directamente.
Pois que estou consciente de que têm toda a razão… só que isso não afecta em nada a minha posição.
Já alguém me ouviu queixar da “merda de país em que vivemos”, reclamar contra o governo ou cascar no Sócrates? Já alguém, alguma vez, me ouviu falar em política, passada, presente ou futura ? Pois… é que nem penso nisso.
Para mim as coisas são mais imediatas, não consigo ver a causa e efeito das medidas tomadas por um governo a não ser que mas abanem à frente dos olhos e expliquem como se tivesse dois anos.

“Um direito, um dever cívico”, pois permitam-me que discorde.
Um direito, sim senhor e um direito muitíssimo importante.
Um dever?! Não consigo concordar com isso…
E sabem porquê?
Porque eu levo qualquer votação a sério, não acho que seja coisa para se andar a “brincar”. Acho que quem vota deve fazê-lo porque acredita que a sua “palavra a dizer” é importante mas, mais importante ainda, porque é conhecedor das opções que tem em aberto e, em consciência, escolheu uma.

Li hoje no facebook que “… quem não vota, não escolhe!”
Desculpem, mas isto não será uma Lapalissade nem nada?
O que está, na minha opinião, em questão é o porquê da coisa, não votou porquê?
O Guincho estava demasiado fantástico?
Havia eventos no autódromo? (ouvi roncar motores o dia todo…lol)
Não lhes apeteceu despir o pijama?
Enfim, estão a ver a ideia…
E depois vão acintosamente criticar o estado das coisas??!
Têm opiniões, muitas vezes convictas, mas acham que não as devem partilhar com o resto do país fazendo uma cruz num papelito?
Tá mali !! Pois claro que está mali…

Mas… agora imaginem a seguinte situação…
A mãe (porque é que tem de ser sempre a mãe?... ;) dá a escolher à família o que quer jantar.
Uns emitem a sua opinião, outros dizem que lhes é indiferente e em função disto define-se o menu.
Dos que afirmaram ser-lhes indiferente, alguns descobrem que afinal tinham uma séria vontade de alguma das coisas, tipicamente a que não têm no prato, outros comem e calam.
Os primeiros são sem dúvida os abstencionistas típicos. Não ouvem a pergunta ou no momento da escolha “têm mais que fazer” e depois refilam.
Concordo que isto seja muito irritante. Baldam-se à tomada de decisões e depois mandam vir com as que foram tomadas.
Mas e os outros? E aqueles que comem o que se lhes põe à frente e não chateiam?!
Notem que isto não quer dizer que comam qualquer merda, estragada, salgada, queimada mas, baseando-se no princípio de que a refeição venha para a mesa em estado de ser comida, apesar de poderem evidentemente ter preferências, tanto se lhes faz carne ou peixe…
Mas ainda bem que alguém toma a decisão do que cozinhar, senão não se comia.

No meu caso, simplesmente não sou “má boca”… será pecado?!
Será que numa democracia as pessoas não terão também o direito de não votar?
Eu voto no direito a poder eventualmente ficar calado… ;)


terça-feira, 22 de setembro de 2009

De quarentões para cima…

COM MÚSICA

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Quando éramos mais novos todos acabávamos por assumir algum papel no liceu… A menina bonita, o fanfarrão, a tímida, o gabarolas, a pirosa, o introvertido, a boazona, o corajoso, a feiosa, o romântico, a cabra…
Dei-me conta de que algumas pessoas não perceberam ainda que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. ;)
Sim, é verdade… sentimo-nos atraídas pelos meninos bonitos da escola, um palminho de cara era meio caminho andado para ficarmos pelo beicinho. Sim, os putos de falinhas mansas ou os natural born leaders causavam o seu efeito. Sim, era importante aquela dose de “I’m the king of the world” para nos conquistar…
E há de haver um equivalente para eles.
Mas sabem que mais? Já não são as picas da adolescência que nos interessam hoje em dia…
Com os anos e a vivência, as pessoas (quer dizer... algumas...) vão aprendendo umas coisas.
No que respeita as relações amorosas, ao fim de uns anos largos de vida e de um que outro casamento falhado, começamos a ter uma noção cada vez mais nítida do que queremos e do que não queremos.
Descobrimos uma que outra coisa…
Que uma carinha laroca não é garantia de uma personalidade interessante.
Que um corpinho bem talhado não é garantia de satisfação sexual.
Que as falinhas mansas são muito bonitas mas que gostamos mais de ver as coisas postas em prática.
Que não somos pertença de ninguém.
Ou seja…
É nesta fase da vida que os patinhos feios se podem transformar em cisnes.
As qualidades mais apreciadas já não são as mesmas. Passa a dar-se mais valor ao “é” do que ao “parece”, mais crédito ás acções do que ás palavras, mais importância ao equilíbrio do que à força.
É como se o nosso discernimento passasse a usar peneira, a por de lado tudo o que já nos causou problemas, a procurar repetir o que correu bem.
Ou seja (digo eu, que gosto muito de dizer coisas…) a partir de certa idade, nós queremos mais é que não nos lixem o juízo. O que queremos ao nosso lado é alguém que nos veja tal como somos, com qualidades e defeitos, e aceite conscientemente todo o pacote. Alguém que dê importância ás coisas realmente importantes, perdemos a pachorra para “cenas”. Queremos que nos divirtam, que nos apoiem, que nos dêem espaço, que nos respeitem, que nos critiquem ou admirem conforme o caso e nos aceitem com os nossos bugs.
E queremos também que esperem todas estas coisas de volta da nossa parte.

domingo, 13 de setembro de 2009

Crises de Fé

COM MÚSICA

Julgo que todos tenhamos em alguma coisa.
Bem… se não for o caso também isso agora não interessa nada, pois vou só falar dos que têm. lol
A é geralmente associada à religiosa, mas não é necessariamente o caso…

Wikipedia:

“Fé (do grego: pistia e do latim: Fides) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.
A fé relaciona-se de maneira unilateral com os verbos acreditar, confiar ou apostar, isto é, se alguém tem fé em algo, então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita, confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha fé. A diferença entre eles, é que ter fé é nutrir um sentimento de afecto, ou até mesmo amor, pelo que acredita, confia e aposta.
É possível nutrir um sentimento de fé em relação a uma pessoa, um objecto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião. A fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas pela comunidade científica. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos. Nesse sentido, é geralmente associada ao contexto religioso.”



De entre as várias coisas que compõem o nosso ser, como a nossa personalidade, as nossas crenças, os nossos princípios, as nossas ideias… a fé é, na minha opinião, uma das mais importantes.
Se estivermos convencidos de que a vida é totalmente aleatória, caótica, sentir-nos-emos constantemente inseguros. Acreditar que haja uma razão para que as coisas sejam como são, mesmo que não se consiga identificar essa razão é, julgo eu, fundamental para o nosso equilíbrio.

Nas definições associa-se a fé a ideias como “acreditar”, “apostar”, “confiar”, “sentir afecto”… de onde se deduz que a fé se refira sempre a sentimentos positivos.
“Confio, acredito e aposto, que aquele filho da mãe me vai tentar aldrabar no negócio”, não qualifica para fé, apesar de cumprir com a maior parte dos requisitos.

Há coisas em que acreditamos sem que as possamos provar, não são por isso menos verdade aos nossos olhos. Nelas depositamos a nossa confiança e vivemos em conforme.
Pode ser uma coisa “grande”, como uma religião ou várias piquininas, como no meu caso, que todas juntas acabam por fazer com que esta vida faça sentido.

A fé, pode acabar de repente…
Uma vivência dolorosa, uma experiência traumática, um enorme desgosto podem, julgo eu, matar qualquer fé.
Mas nesses casos fala-se em perder a fé… não em crise da mesma.

Não, as crises de fé não são geralmente provocadas por uma machadada radical…
Estas geralmente aparecem por desgaste, quando nos cansamos, nalguma área da nossa vida, de remar contra a maré… de dar um passo para a frente e logo a seguir dois para trás…
Quando nos fartamos de ver a luz ao fundo do túnel, mas nunca lhe conseguimos realmente chegar…
Quando a nossa vida se mantém tipo montanha russa enquanto que, pelas nossas contas, já deveríamos estar a chegar ao cais, com as pernas a abanar, mas o estômago no sítio.
Ou quando uma série de eventos adversos, uns atrás dos outros, parece vir contrariar aquilo em que acreditamos.

Por exemplo… durante os partos gera-se muitas vezes uma grande crise de fé… ;)
A maior parte de nós acredita que parir é a coisa mais natural do mundo, tem confiança que vá tudo correr bem (se não houver anteriormente causa para alarme), sente já amor pelo serzinho que aí vem… Grande parte das mulheres (ok, há umas que são um bocadinho mais caguinchas…) vai para o parto cheia de fé em que vá tudo correr bem.
Umas horas de fé mais tarde, as coisas já piam de outra maneira…
Como é possível suportar aquelas dores durante tanto tempo? Em que cinco minutos rapidamente parecem uma hora... E dizem-nos que ainda não está para breve?! Devem estar a gozar connosco… alguém aguenta aquilo mais uma vez?
E então lá aparece a fé, que nem anjinho de asas brancas, a dizer-nos à orelha que à milénios que as mulheres passam por aquilo… muitas até repetem a dose.
Depois vem o diabinho, de corninhos vermelhos e rabinho em flecha, que nos berra: “que se lixe essa merda toooda, eu quero uma epidural e quero já!”

A realidade é que “quem espera, desespera”… e se a espera for dolorosa, pior ainda… e sem esperança, não há fé que aguente.

A fé é o que nos permite enfrentar as adversidades com serenidade. É o que nos faz acreditar que há uma maneira de chegar ao outro lado… seja lá o que for o outro lado… é o sítio para onde queremos ir…
A fé digamos que é uma ponte…
Só que quando esta é abalada, a ponte aparece-nos assim



Entre o dia em que meti na cabeça que iria abandonar a querida mas muito stressada Lisboa e acabar a minha vida para os lados de Cascais/Sintra, e o dia em que fiz efectivamente a mudança, passaram-se quinze anos.
Entre o dia em que deixei de tomar a pílula com intenções de engravidar, e o dia em que vi pela primeira vez a carinha linda do meu filho, passaram-se dez anos.

Tantas vezes a ponte me pareceu pouco sólida.
Tantas vezes me perguntei se deveria ou não tentar de facto atravessa-la.
Tantas vezes tremi ao fazê-lo…
Mas cheguei lá… cheguei lá porque, em termos de ditados populares, prefiro aquele que diz que “quem espera, sempre alcança”… e levo-o nos dois sentidos, de quem espera pacientemente (de preferência sentado, ás vezes…) e de quem tem esperança…

Por isso, por muito ranhosa que a ponte possa parecer em determinadas alturas, é acreditar que é possível de alguma maneira atravessa-la…

Mas o que é importante é que continuemos sempre a ver uma ponte. ;)