quarta-feira, 29 de julho de 2009

Facilitismos

COM MÚSICA

Na semana passada fui passar uns dias a casa de uns amigos ao Allgarve (lol)…
No dia em que chegámos, ele, o pai de família, voltou para Lisboa com o filho mais velho.
Fomo-nos todos despedir ao carro e qual não foi o meu espanto quando a criança se deitou no banco de trás, sem cinto, a jogar playstation…

Perguntei “mas o miúdo vai assim?!”
Responderam-me em estilo sacudidela “vai”

Hum… Eles são os pais… calei-me. Mais tarde não consegui no entanto conter-me… voltei a tocar no assunto. Perguntei se era costume o puto andar sem cinto no carro, a mãe respondeu-me que com ela não, com o pai sim. Hum… again. Há relativamente pouco tempo, completamente por acaso, ao navegar no nosso sitezinho, fui parar a um blog onde se descrevia a morte de uma criança nestas circunstâncias… infelizmente já não me lembro de todo de quem era, não consegui voltar a encontra-lo para aqui deixar o link. O pai foi buscar os filhos a casa da avó, era tarde, o filho mais novo estava cheio de sono, o trajecto era curto, o risco mínimo, o pai decidiu deixa-lo ir deitado no banco de trás, em vez de lhe por o cinto. Tiveram um acidente, o carro capotou, a criança foi cuspida e teve morte imediata. O pai ficou inconsciente, a irmã mais velha aflita, sozinha, à noite, no meio do nada, é que chamou ajuda. A família nunca mais se recompôs. O relato do acontecimento estava extremamente bem feito, sentido, contava não só o acidente como tudo o que se seguiu, a forma como uma vida se perdeu e várias outras foram devastadas. Mexeu comigo mais do que possam imaginar. Mencionei o facto à mãe. Senti que estava incomodada, que compreendia o que estava a tentar transmitir… Mas afirmou que já tinha discutido demasiadas vezes o assunto, que insistir seria gerar problemas com os quais não conseguia lidar. Que tinham concordado em discordar e que cada um, quando viajava com as crianças, fazia como bem entendia. Começou a subir-me a mostarda ao nariz… como sabem não tenho um feitio fácil… insisti que era a vida de uma criança que estava em jogo… que a decisão não era equivalente à de lhes dar gelados ou não, de vestir esta ou aquela roupa ou de os deixar ir para a cama mais tarde… quase, quase, que me exaltei… mas controlei-me e mais uma vez voltei a calar-me. Mas não consigo deixar de pensar nisso… Na sexta-feira passada morreu mais um membro do nosso site… um rapaz de 27 anos… ceifado assim de um momento para o outro. Mais uma vez tive de anunciar a triste notícia. Mais uma vez fui transmitir os meus sentimentos à família. Desta vez o pai também está inscrito no site e ao escrever-lhe o email revolveram-se-me as tripas. A dor… a dor que deve ser a perda de um filho… Não quero nunca ter de dizer a estes meus amigos “I told you so…” Não quero ter de assistir à sua dor, ao seu desespero… lamento, mas não consigo ficar calada… Acordem!!! Acordem eles, acordem todos aqueles que acham que a distância é curta, que estas coisas só acontecem aos outros, que quando éramos pequenos andávamos de carro sem cinto e ainda aqui estamos… Acreditem, não estamos todos… quando era miúda assisti a um acidente gravíssimo, morreram todos os que iam no carro… passei-lhes mesmo ao lado… quatro meninos … ainda me lembro dos seus corpinhos debruçados sobre os bancos da frente… das suas T-shirts ás riscas azuis e brancas… cobertas de sangue… mas nessa altura muitos carros não tinham cintos atrás.  

5 comentários:

  1. Sabes?

    Infelizmente, parece haver pessoas que só percebem os exemplos... as palavras não lhes chegam.
    Não sei se é idiotice genética, ou demasiada descontracção.
    Mas se for o segundo caso, confundem o relax com a inconsciência, esquecem que são os responsáveis pelos filhos, esquecem que estão cá precisamente para assumir decisões e não só a boa vida do " laisser faire, laisser passer".

    E consideram-se eles pais...

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  2. Esses pais são os que depois fundam aquelas associações de automobilistas mobilizados contra o IP 5. Porque são os únicos sobreviventes de acidentes em que os filhos morrem.

    E também são os mesmos que passarão a amarrar os filhos com cintos no dia em que souberem que a criança, quando vem disparada lá de trás, nem que seja num embate a 50 km/h, é como um rochedo de... como é que se faz a conta? A velocidade vezes a massa? Depende do peso da criança. O meu mais novo, por exemplo - 34 kg x 50 = 1.070 Kg. Um rochedo de 1.070 kg, que até lhes pode acertar na cabeça a eles, antes de sair disparado pelo vidro. Quando perceberem isso, até mumificam as crianças ao cinto, no banco de trás.

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  3. Estes são o tipo de pessoas que também pensam que o cinto de segurança é uma chatice imposta pelo Estado, e que contam a história do primo do amigo da amiga que morreu num acidente por causa do cinto de segurança...

    Idiotas.

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  4. Pois é Cristina, revolta p e 2 rrs!
    Pois é, não estamos cá todos... Há coisas que são inevitáveis, há situações que implicam muita dor e muita luta, para ficar ou para partir finalmente
    Bolas, há gestos simples que devem ser automáticos - como piscar os olhos quando se sente areia no ar - se defendemos os olhos de um grão de areia não conseguimos proteger uma criança de um perigo de vida? Ah pois, para isso é preciso raciocinar... Tou a ver...

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  5. Por falar em facilitismos, outro,noutro contexto, não tão menos importante mas muito mais dificil de combater é a TV que nos invade pela casa a dentro e especialmente suga a mente das crianças, entre outras coisas... para facilitar a paz de muitos.

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