segunda-feira, 15 de março de 2010

Para além dos rótulos

COM MÚSICA



Apesar de todos estarmos perfeitamente conscientes de que pessoas são pessoas, o nosso primeiro contacto com cada uma irá, antes do mais, ser influenciado pelo seu “rótulo”…
Antes de encararmos alguém como ser humano, a tendência natural é de o vermos como o empregador, o médico, o advogado, o vizinho, o aluno, a celebridade, o pobrezinho, o polícia, o rival, etc… Estes rótulos ser-lhes-ão aplicados por nós, consoante a circunstância e, inútil será dizer, cada um poderá ter outros em diferentes situações.

Em alguns casos, estes estarão associados, nas nossas cabeças, a uma série de características (diferentes para cada um de nós) que atribuímos à “espécie”… Assim poderemos considerar, por exemplo, que os políticos são corruptos, os moedinhas drogados e os actores de cinema o máximo… Sem sequer conhecermos a pessoa, já estaremos a fazer juízos de valor.

Por outro lado, estes mesmos rótulos, irão provocar instintivamente em nós reacções emocionais… receio, admiração, repulsa, reverência, etc.
Quem não se sentiu já nervoso por ir conhecer os futuros sogros ou intimidado ao ver-se perante o juiz num tribunal, por exemplo…

Na minha opinião, ninguém é melhor ou pior por ser advogado ou caixa de supermercado, cantor ou mestre de obras, médico ou motorista de autocarro… nas relações humanas, e todas as relações entre pessoas o são (entre outras coisas), o que interessa é o âmago de cada um. O respeito e consideração (ou a ausência dos mesmos), deveriam estar, a meu ver, associados á pessoa e não ao rótulo. Qualquer um pode ser um gajo porreiro ou um filho da mãe desgraçado.

A realidade é que, todos aqueles com quem temos de lidar na vida, são acima de tudo “gente”. Comem, dormem e respiram como nós, têm sentimentos, opiniões, assumem posições e terão provavelmente também família e amigos. Somos basicamente todos feitos do mesmo barro…
Se tivermos sempre isso presente, a interacção torna-se muito mais fácil. Seremos muito mais susceptíveis de demonstrar tolerância, compaixão, empatia. Os sentimentos de superioridade/inferioridade, que ás vezes nos tomam de assalto, tornam-se ridículos.

Um orador afirmou que, para não se sentir intimidado pelo seu público, imaginava que a assistência estava toda nua. Não iria a esse ponto.
Acho no entanto um exercício interessante imaginar a pessoa com quem estamos a lidar a tomar o pequeno almoço em pijama ou a lavar os dentes antes de se ir deitar. Vê-la mentalmente na intimidade do seu dia a dia, ajuda a humaniza-la, a pô-la exactamente ao mesmo nível que nós.

Imaginem, por exemplo, o médico que vos vai operar, deitado na cama ao lado da vossa a sofrer de cólicas renais. Ou a super-star que têm de entrevistar, enjoada que nem uma pescada num barco. A empregada doméstica, a fazer em casa dela as mesmas tarefas que fez na vossa. A sogra a fazer respiração de cãozinho cansado enquanto dá à luz a vossa cara metade. And so on…

Os outros têm as mesmas vivências que nós… alegrias e desgostos, problemas e vitórias, desalentos e entusiasmos, independentemente do papel que estejam a interpretar no momento. Se os olharmos nos olhos e virmos a pessoa por detrás do rótulo, se os tratarmos como gente e exigirmos o mesmo tratamento, o desfecho de qualquer encontro será garantidamente muito mais satisfatório. ;)

2 comentários:

  1. Queira ou não se queira, é muito difícil separar-se o ser do parecer. Mesmo que conscientemente olhemos para uma pessoa tentando perceber como é e não como parece ser, acho uma utopia pensar que no nosso subconsciente não façamos esta ligação. Entre outros, meto neste saco também aquilo que fazemos para ganharmos o nosso pilim, e que marca também um certo “parecer”.

    Contaram-me uma história, que vinda de quem foi acredito como verdadeira, e verosímil.

    Um famoso violoncelista, que enchia plateias quando actuava, certo dia decidiu mudar a roupagem e fez-se de artista de rua, tocando as mesmas obras, com o mesmo empenho, em plena rua. Grande desilusão quando viu que pouca gente lhe ligava…. mesmo sabendo que era um publico diferente…

    PS- bem escolhida a musica deste post

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  2. Pois que acho que tens toda a razão... acho mesmo que já escrevi um post sobre esse tema... mas...
    Buáááááááá!!! Este não tinha nada a ver com isso... Snif!

    O que queria transmitir é que quando vemos um tipo de bata branca e estetoscópio ao pescoço, num hospital... vemos um médico. Quando vamos a uma entrevista de emprego e temos um tipo sentado à frente da secretária... vemos um potencial patrão. Etc...
    Raramente temos presente o facto de que, para além disso, também são gente. O facto de os conseguirmos ver também como seres humanos torna qualquer contacto muito mais fácil.
    Bem... não é fácil resumir um post em algumas linhas... lol

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