terça-feira, 9 de março de 2010

Que fazes tu?




Aqui à tempos recebi um mail, de um membro do nosso sitezinho, a informar que tinha começado a dedicar-se à pintura de casas e execução de diversos trabalhos de bricolage…
Achei giro, reencaminhei-o e guardei-o para se um dia precisar dos seus serviços.
Qual não foi o meu espanto, ao  receber um que outro comentário,  em que a ideia de fundo era “isto anda mesmo a saque, até os ex-LF (uma verdadeira elite, como todos sabem…lol)  já andam a pintar paredes…”

Não conheço bem a pessoa em questão, vi-o duas ou três vezes ao vivo e a cores e trocámos algumas palavras no site. Posso evidentemente estar enganada mas, aparenta ser uma pessoa alegre, bem disposta, positiva, em paz com a vida.
Também não sei qual será a sua situação financeira mas, longe de me parecer uma atitude desesperada (a “aviltante” decisão de pintar paredes… credo) senti um verdadeiro gozo pela actividade, mais uma vez posso estar enganada…

A maior parte de nós precisa de trabalhar para viver…
Em termos de “mercado de trabalho” existem dois extremos; os que, por variadíssimas razões, não têm outra hipótese senão agarrar-se ao que vier à rede e aqueles que, tendo-se apaixonado por uma profissão, abraçam uma carreira.
Pelo meio temos variadíssimos tons de cinzento…

Se tivermos em conta que o trabalho ocupa a maior parte do nosso precioso tempo, parece bastante evidente que quanto mais satisfação dele conseguirmos retirar melhor.
Se o nosso “ganha pão” requer esforço constante, se a maior parte dos dias metemos mãos à obra contrariados, sem entusiasmo, se não nos der gozo, não nos desafiar/realizar de alguma forma … então algo está profundamente errado.

A minha empregada saiu recentemente de um casamento desastroso. Necessitando ganhar o seu dinheirinho, foi por opção que decidiu fazer o que faz.  Simplesmente gosta das tarefas domesticas e fá-las com prazer e brio. Anda de cabeça erguida, está-se nas tintas para quem a aponta do dedo e parece bem disposta e satisfeita com a vida.

Todos seremos competentes em algum campo de utilidade profissional. “Diagnosticar” essas competências e apetências e aplica-las a um projecto real, nem sempre é no entanto obvio ou fácil. A realidade é que todos ficarão muito melhor servidos se cada um se conseguir integrar numa área onde se sinta capaz e feliz.
A questão é que, aparentemente, nem toda a gente tem noção disto…

Há uns anos trabalhei numa agência de comunicação. Estava encarregue de toda a parte logística da empresa, assim como da contabilidade corrente, pagamentos e recebimentos, mapas de tesouraria, etc e dava também apoio a alguns projectos.
Basicamente, fazia aquilo que melhor sei fazer; organizar… Para mim é quase uma actividade lúdica, o meu cérebro parece talhado para esse tipo de tarefa. Mesmo sem querer, quando dou por mim já estou a organizar tudo à minha volta. Ou seja, durante uns tempos senti-me bem naquela empresa.
As minhas patroas também pareciam bastante satisfeitas comigo. Na realidade, tão satisfeitas, que acharam que deveria aspirar a um “cargo” de maior relevância, que deveria tornar-me gestora de projecto. Começaram a pressionar-me por não compreenderem a minha falta de “ambição”.  O ambiente tornou-se tão pesado que acabei por me despedir.
Ora se fazia bem o meu trabalho e gostava de o fazer… se elas precisavam de alguém que o fizesse… isto parece-vos fazer algum sentido? Pois…

Há tempos, propuseram-me um negócio de venda de roupas. Pareceu-me uma ideia brilhante, coisas muito giras, muito baratas, atirei-me a ela.
Erro! Oh que grande erro… a realidade é que, se há quem consiga vender areia no deserto, eu  acho que nem água conseguiria vender. Se as pessoas se queixam de falta de dinheiro, ponho-me no lugar delas e não consigo insistir. Se não acedem a vir ver à primeira ou à segunda, sou incapaz de insistir, sinto-me uma chata. Se não se mostram naturalmente inclinadas a comprar, não consigo dar-lhes a volta. Não tenho espírito de vendedora, tudo o que implica vai contra as minhas tendências naturais.

Há coisas que gostamos de fazer ou que fazemos bem, com facilidade, mesmo que não nos dêem um especial  prazer, e outras para as quais simplesmente não fomos talhados. Coisas que a uns saem com naturalidade, para outros são verdadeiras provações mas, como se costuma dizer, há gente para tudo.
As aflições financeiras tendem a toldar-nos o raciocínio e a fazer com que, em desespero, nos abalancemos a actividades condenadas ao fracasso desde o início. Se conseguirmos no entanto ter uma noção dos nossos pontos fortes e fracos, mais facilmente nos iremos encaixar nalguma, seja ela qual for, que nos encha as medidas, que nos faça sentir que aquelas horas do dia não são desperdiçadas.


COM MÚSICA

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