terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Ogres são como as cebolas

COM MÚSICA



Burro – Cheiram mal?!
Shrek – Não! Têm camadas…

Assim são também as relações entre as pessoas, das mais superficiais às mais profundas …
Se o carácter e características dos indivíduos que se enquadram na primeira categoria não pesam grandemente na nossa vida, o mesmo já não se poderá dizer no que diz respeito aos da segunda.

Que o senhor do café,  goste de se vestir de mulher, que gaste tudo o que ganha no casino ou que tenha como hobbie coleccionar bigornas… para nós é perfeitamente igual ao litro. O mais provável, de qualquer forma, é que nem tenhamos conhecimento de nada disso.
Se estivermos no entanto a considerar casar com ele, talvez já não sejamos tão indiferentes a estes “pequenos detalhes” … ;)

Quanto mais as pessoas entram na nossa intimidade, mais importantes se tornam na nossa vida, mais peso têm. O que pensam, dizem e fazem as mais próximas de nós irá, frequentemente, de uma forma ou de outra, afectar-nos positiva ou negativamente.

O envolvimento, seja de que natureza for, começa por uma certa empatia. Volta não volta,  sentimo-nos tentados a “ir mais longe”, a deixar o outro entrar mais profundamente na nossa vida.
É no entanto extremamente importante que tenhamos a noção de “onde” o podemos efectivamente deixar entrar.
Inútil será dizer que isso nem sempre acontece e qualquer um de nós terá casos em que abriu a porta de uma divisão onde o outro não era suposto ir.

Onde isto é mais flagrante é nas relações amorosas.
Terá, até certo ponto, a ver com a paixão, com a irracionalidade e cegueira inerentes a este tipo de sentimento. Mas não só.
A realidade é que, muitas vezes, não temos noção de que uma pessoa que poderíamos apreciar  como amiga, dificilmente poderá partilhar a vida connosco.
Mas o que é válido para os amores é também válido para as amizades, and so on

Utilizando mais uma vez a analogia com os jogos, que neste caso ajuda bastante a exemplificar o que tento transmitir, é preciso saber o que conseguimos e nos dá prazer jogar.

Tanto eu como grande parte das pessoas com quem me dou, somos jogohólics. Jogamos jogos de tabuleiro (de dificuldade variada), jogos de sociedade, jogos de cartas, etc… Temos um armário cheio deles, de cima a baixo.

Ora cada um de nós tem jogos que se recusa a jogar, que não sabe nem quer aprender.
As razões podem ser variadas, podemos acha-los demasiado estúpidos, demasiado complicados, ou simplesmente não lhes achar graça por alguma razão pessoal e intransmissível.
Eu pessoalmente recuso-me a jogar Bridge, por exemplo. Vivi com uma pessoa que  jogava todas as semanas e todas as semanas havia discussões, pessoas que se zangavam forte e feio, por causa da porcaria do jogo. Acho que fiquei traumatizada… (LOL)

Por outro lado, há jogos que só jogamos no social, quando estão presentes grupos grandes, mas que não nos passaria pela cabeça jogar no nosso núcleo mais fechado. Digamos que há jogos que se adequam a cada camada  da cebola.

Dito isto, voltando à vida real, cada um de nós tem os seus jogos, sendo eles a sua maneira de ser, de pensar, de agir. Não fazendo julgamentos de valor, convém no entanto saber os que estamos dispostos a jogar com os outros. E quanto mais perto do núcleo os deixarmos aproximar, mais criteriosos deveremos ser.

Imaginemos que alguém tem tendências sexuais sadomasoquistas, por exemplo. Se fôr um amigo, dificilmente isso irá interferir com a nossa relação. A coisa pode mudar de figura se se tratar da nossa cara-metade.
Este é um exemplo extremo e caricatural, há no entanto muitos aspectos a ter em conta ao atribuirmos um papel na nossa vida a alguém. 
Se certas características se podem facilmente suportar em certo tipo de relações, em que eventualmente nem sequer daremos por elas, noutras já  nos poderão afectar seriamente.

Nem sempre o “tipo de jogo” de cada um é fácil de identificar à partida. Ás vezes  atiramo-nos de cabeça,  dando-nos posteriormente conta de que não o queremos ou conseguimos jogar.
Mas uma coisa parece-me óbvia; se já sabemos que o outro não ouve a mesma canção, não empenhemos a porcaria do anel de rubi… ;)

3 comentários:

  1. … essa das camadas das cebolas é uma boa analogia…

    … no entanto existe uma diferença importante, é que nas cebolas , vamos tirando as camadas , e no fim encontramos sempre o núcleo, bem saboroso … diga-se… nas pessoas, por muitas camadas que se tirem nunca se sabe que se chegou ao núcleo.

    …bem vistas as coisas assim acaba por ser mais saboroso… isto é…. ter sempre o desafio de descobrir mais camadas...

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  2. Pois... as pessoas, tais como os ogres, também têm de facto camadas.
    Mas neste caso estava mais a falar das camadas das relações entre elas.
    Umas mais profundas, outras mais superficiais... e aí é bem fácil de saber onde está o núcleo. ;)

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  3. "não empenhemos a porcaria do anel de rubi...", bem visto, sim senhora. Mas a questão, está exactamente no querer ouvir a canção, mesmo que o traulitar seja, muitas vezes, antagónico. Entre o silêncio e a nota díspar, venha a segunda, sempre se ouve qualquer coisa, mesmo empenhar.a.mente, do que coisa alguma.
    Opções, fáceis.

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