quarta-feira, 9 de março de 2011

The blues

COM MÚSICA



“A vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras vezes para baixo…”

Embora acredite que haja quem goste de “curtir a neura”, não será o caso para a maior parte de nós. Alguém, no seu perfeito juízo (digo eu, sei lá), não aprecia estar “em baixo”.
É no entanto inevitável que, volta não volta, nos sintamos assim.
Seja lá qual for a razão e respectiva gravidade, de vez em quando sentimo-nos abatidos, tristes, desmoralizados…

Há quem, nessas alturas, atribua a esse estado um peso, uma importância nefasta, que a meu ver não deveria ter.
Na realidade acredito que os momentos maus sejam tão importantes nas nossas vidas como os bons. Acredito que se não tivermos a capacidade de sofrer, também não teremos a de retirar prazer das situações. É uma questão de sensibilidade.

A meu ver, a dor física é encarada de uma forma muito mais natural, do que a dor psicológica.
A insensibilidade à mesma (Insensibilidade congénita à dor) é aliás uma condição que inspira cuidados e preocupação. A dor adverte-nos de que qualquer coisa não está bem, se não tivermos esse sinal de alarme a coisa pode dar muito para o torto.

A dor psicológica não é menos natural. Há coisas que nos agridem, magoam, incomodam, angustiam, quer queiramos quer não.
A forma como encararmos esse estado menos agradável irá fazer toda a diferença.

Na minha opinião, não é aconselhável tentarmos tapar o sol com a peneira.
Se estivermos efectivamente na merda (pardon my french) não vale a pena atirarmos areia para os olhos de quem nos perguntar o que se passa e fazer de conta que está tudo bem. Os seres humanos têm antenas e essas coisas transparecem, ponto final.
Podemos “invocar a quinta emenda” (lol) e recusar-nos a falar sobre o assunto. Podemos levantar um bocadinho do véu e fornecer uma versão Readers Digest da questão. Ou então, em certos casos, aproveitar e desabafar, o que ás vezes até sabe bem.
Quanto mais não seja pelo facto destes estados de espírito gerarem alguma sensibilidade emocional, é bom que os assumamos para que os outros saibam com o que contar.
Por outro lado, empolar a situação e fazer dela um bicho de sete cabeças, encarar uma crise como se fosse o fim do mundo, não é de todo saudável. As coisas têm o peso que têm mas, embora possamos ainda não lhes conseguir visualizar o fim, é bom que estejamos conscientes de que este chegará.
Se não o fizermos, corremos o risco de que a inofensiva neura se transforme em depressão, upgrade que não interessa a ninguém e muito mais difícil de ultrapassar.
“Não há bem que sempre dure, não há mal que nunca acabe”.

Há quem ache que chorar é um sinal de fraqueza, de mariquice se assim lhe quiserem chamar. Pessoalmente acho que é uma válvula de escape, como a das panelas de pressão. Tanto assim que, grande parte de nós, em certas situações não o consegue evitar, por muito que tente controlar-se.
Não consigo ver qualquer vergonha ou humilhação nisso. Antes pelo contrário, acho que prova que somos humanos, o único animal que o consegue fazer para expressar emoções.

Mesmo que eventualmente não vertamos lágrimas, seja lá por que razão for, alturas há em que perdemos a alegria, a energia.
Apesar da iniciativa própria nessas alturas não ser expectável, se formos desafiados para alguma actividade que em “tempos normais” nos daria prazer, acho que devemos fazer um esforço para aceder. Muitas vezes acabamos assim por conseguir uma pausa que nos permite recuperar algum fôlego.
Para além da óbvia falta de vontade para fazer seja o que for, que estes estados provocam, muitas vezes a desculpa para a nossa recusa é o típico “não estou boa companhia”. No entanto, se os outros estiverem cientes da situação em que nos encontramos, não esperarão certamente que sejamos a boa disposição personificada.

Opostamente, se a situação que nos transtorna envolver pessoas, ir ao seu encontro, enquanto ainda nos sentimos fragilizados, talvez não seja a melhor das ideias. É aquilo a que se chama meter-se na boca do lobo.
Confrontarmo-nos com o que nos apoquenta, não sendo absolutamente necessário, não vai ajudar em nada a nossa recuperação.
Tal como as feridas, é preciso deixar sarar, dar tempo ao tempo, este cura a maior parte dos males.

Mas, acima de tudo, é preciso ter a noção de que acima das nuvens o céu está azul e o sol brilha. Tudo se resolve… it’s a mistery.



2 comentários:

  1. Já invoquei a quinta emenda. Já chorei. etc... e tal.

    E depois, olha, vou crescendo.

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  2. Se calhar é para isso que servem estas alturas... ;)

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