terça-feira, 1 de março de 2011

Feelings

COM MÚSICA


Considero-me uma pessoa essencialmente racional.
Como não me canso de dizer, isto não tem nada a ver com as emoções, que continuo a sentir, mas com a forma como encaro a vida.
Basicamente, quer dizer que baseio as minhas acções, as minhas decisões, no raciocínio, numa análise das situações. Que sou sensível a argumentos lógicos, estatísticos, probabilísticos. Que tenho em conta os possíveis resultados da acção/reacção, causa/consequência, etc…

No entanto, e de certo modo contraditoriamente, tenho imensos feelings.
Quantas vezes estes não me dizem uma coisa, quando a razão me diz outra…
Por feelings entendam-se coisas que não consigo explicar, provar, ou sequer analisar.
Acontece, curiosamente, que acredito que estes sejam tão importantes nas nossas vidas como a utilização do cérebro, que tanto defendo.
Acho que tem a ver com aquilo a que chamamos

Apesar de ter sido baptizada, dado que ninguém me perguntou a opinião sobre o assunto, não pratico qualquer religião. Tenho alguma noção dos princípios básicos de algumas delas e a sensação de que, no fundo, vão todas dar ao mesmo.
Também não sou imensamente dada a esoterismos, mantendo sempre um certo cepticismo.
Vivendo num país essencialmente católico estou evidentemente embebida, em muitos aspectos, da sua cultura. É bem capaz de me sair uma expressão do género “por amor de Deus…”, simplesmente porque as ouço desde que nasci e estão de certa forma alojadas no meu subconsciente.

Paradoxalmente então, a minha vida rege-se em grande parte por esses tais  feelings que mencionei, aos quais costumo dar bastante crédito.

Numa conferência no TED, sobre expectativas, o orador afirma que, probabilisticamente, é uma estupidez monumental apostar em lotarias e afins.
Embora compreenda perfeitamente os seus argumentos e esteja de acordo com eles, continuo, semanalmente, a apostar no Euromilhões. Porquê?
Acho que, como costumava dizer-me uma pessoa, “é a hipótese do Anjo”…
Apesar de consciente de que a hipótese de ganhar alguma coisa que se veja é ridiculamente baixa, é uma realidade que acontece todas as semanas a várias pessoas.
Não jogo portanto com qualquer expectativa, não aposto o meu futuro nisso, não tenho ilusões de que seja por essa via que vá resolver os meus problemas financeiros.
Faço-o porque acredito que qualquer pessoa possa ganhar. Excepto se não apostar.

Da mesma forma, se qualquer outra coisa fizer intuitivamente sentido para mim, pratico-a. Abraço a ideia de que, se não parecer haver inconveniente, porque não experimentar.
Assim, do alto do meu “agnosticismo”, entrego-me a práticas teoricamente reservadas aos “crentes”.

Em momentos de grande aflição, costumo acender velas, por exemplo…
Porque o faço?! Não tenho a mais pequena ideia.
Acho que acredito que estas funcionem como um lembrete para o universo, de que estamos a transmitir energia positiva, ou talvez que sejam antes um veículo dessa mesma energia…
De cada vez que uma criança está gravemente doente, alguma pessoa em sérias dificuldades, etc, lá estou eu a acender velinhas.
No outro dia, vendo-me a acender mais uma, a minha cara metade perguntou-me se essa era para que um projecto fosse aprovado.
Não acendo velas a “pedir” resultados específicos, faço-o acreditando estar a contribuir para um desfecho favorável das questões que nos apoquentam, seja lá ele qual for.

Tenho também aquilo a que costumamos chamar “pressentimentos”. Sensações que me perseguem, coisas que se me apresentam como quase certezas, não tendo ainda acontecido.
A partir do momento em que me dei conta de que gostaria de viver nesta zona, por exemplo, não duvidei por um segundo de que isso fosse efectivamente acontecer, apesar de só me ter mudado muitos e longos anos mais tarde.
Tal como esta, há muitas coisas que tenho a sensação de “saber”, sem que isso seja efectivamente possível.

O mesmo acontece com pessoas… o meu âmago “sabe” coisas que ás vezes o meu cérebro é incapaz de processar. Excepto raríssimas excepções, venho geralmente mais tarde a compreender a minha primeira reacção ás mesmas. Tantas vezes, devido ao tal carácter racional e analítico, as contrario, para mais tarde dar a mão à palmatória.

Acredito do fundo do coração que, se tivermos boa onda, uma visão positiva do mundo, formos “boas pessoas”, atrairemos coisas agradáveis para a nossa vida. Que, apesar das pedras do caminho, o balanço será positivo.
Nem tudo é explicável, nem tudo faz sentido, nem tudo se pode provar.
Pessoalmente, acho que tudo acontece por uma razão mas não sinto necessidade de obrigatoriamente saber qual. Não preciso de justificar, perante mim própria ou terceiros porque acredito no que acredito, entrego-me, simplesmente.
Mas acreditar, acreditar com todo o nosso ser, seja lá no que for, é o que nos mantém coesos quando tudo o resto falha.

1 comentário:

  1. A palavra que procuras é:

    Intuição

    "Intuition provides us with beliefs that we cannot necessarily justify. For this reason, it has been the subject of study in psychology, as well as a topic of interest in the supernatural."

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