terça-feira, 26 de abril de 2011

Time is Money

COM MÚSICA



Algures durante a adolescência, perante o grande ponto de interrogação que era a minha vocação profissional, levaram-me a fazer um daqueles testes psicotécnicos, na esperança de uma luz sobre o que poderia ser o meu caminho.
Para além de me informarem que tinha um QI superior ao do chimpanzé, disseram que poderia “ser” basicamente o que quisesse, desde que para aí estivesse virada. Foi extremamente elucidativo.

A realidade é que não consegui escolher uma carreira…
Senti-me extraordinariamente atraída por algumas profissões mas, por razões que me ultrapassam, não encarreirei por nenhuma delas.
Fui seguindo a minha vida ao sabor do vento, fazendo um que outro curso, tendo um que outro trabalho, sem nunca me fixar em nada de concreto.

Todos nós conhecemos pessoas que não têm literalmente “tempo para nada”, que o passam a trabalhar para ganhar dinheiro e o pouco que lhes sobra a descansar do esforço.
Dizem que perguntaram uma vez ao Dalai Lama o que mais o surpreendia na humanidade, tendo ele respondido; “O homem, porque trabalha muito e perde muita saúde pra ganhar dinheiro, e quando o tem, perde muito para recuperar a saúde!!

Ora bem, cheguei à conclusão de que a afirmação de que tempo é dinheiro não podia estar mais certa… a maior parte das pessoas não tem é conta nesse banco para lá depositar os cheques…

Durante o meu percurso de vida tenho passado por épocas mais prósperas do que outras, não foram obrigatoriamente as mais felizes.
Não estou com isto a querer dizer que o dinheiro seja dispensável, estando bem ciente de que nos permite ter qualidade de vida, numa época em que quase tudo se paga.
Estou no entanto convencida de que é um daqueles venenos que tomados na dose certa podem salvar e usados descontroladamente matar.
Como toda a gente, faço sacrifícios em seu nome, pois há que ter com que pôr a sopa na mesa.

Nos nossos dias, no entanto, ganhar dinheiro facilmente se pode transformar em pescadinha de rabo na boca, e não estou a falar das que se fritam e comem com arroz de tomate.
A realidade é que quanto mais temos, mais queremos, e quanto mais queremos mais dinheiro temos de gerar para o obtermos.
Casas, carros, roupas, viagens, gadjets… tudo nos sai do pelo, a não ser que tenhamos ganho o euromilhões.
Por cada coisa que nos damos ao luxo de pagar, alguma outra perdemos certamente, entretidos que estávamos a tratar de a conseguir.

Cheguei recentemente à conclusão de que sempre fui extremamente ambiciosa, acreditando piamente na célebre afirmação de Benjamim Franklin.
O dinheiro não nos pode comprar tempo, mas o tempo equivale sem a mínima dúvida a muito dinheiro.

Acredito que as horas com o meu filho não tenham preço, o tempo que passo a ler-lhe histórias antes de dormir, a ajuda-lo a fazer os trabalhos de casa, os jogos que jogamos juntos, os passeios, as conversas. Não há dinheiro que pague o podermos dispor de umas horas para curtir um amigo ou simplesmente para o ajudar se disso precisar. Não é possível quantificar a qualidade do tempo passado sem stress, sem pressas, sem correrias, as horas passadas na companhia daqueles de quem gostamos, a fazer o que nos apeteça. E não podemos sem dúvida sempre fazer o que nos apetece mas podemos pelo menos tentar que aquilo que temos de fazer nos apeteça.

Ás vezes tenho a sensação de que a humanidade perdeu a noção das coisas. O homem anda tão ocupado a produzir riqueza, para conseguir atingir o que a sociedade moderna tem para lhe proporcionar, que se esquece de que muitas das melhores coisas da vida são à borla.
Trabalha tanto para lá chegar que não se dá conta de que está a gastar uma fortuna… em tempo. ;)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nós, macaquinhos

COM MÚSICA



Quando penso nos progressos da medicina, da ciência, da tecnologia, fico absolutamente abismada… É impressionante o caminho que a humanidade fez até aos nossos dias, o cérebro humano é sem dúvida uma máquina brilhante, prodigiosa. Tivemos, mais do que qualquer outra espécie, graças á nossa inteligência, uma evolução deslumbrante.

Outra coisa que não deixa nunca de me admirar é a gigantesca falta de inteligência emocional demonstrada por grande parte dos seres humanos. Esta reflecte-se a todos os níveis, desde o individuo, aos governos, passando por empresas e organizações. Basicamente, já vamos à lua mas continuamos, em muitos casos, a comportar-nos como verdadeiros trogloditas.

A fome de poder, a ganância, a inveja, o ciúme, os sentimentos de posse, o egoísmo, a necessidade de status, o consumismo, a busca de popularidade, etc, parecem reger mais as atitudes do bicho homem do que o bom senso, o autocontrolo, a persistência, o zelo,  a compaixão, a empatia…

O resultado, na minha opinião, é termos um mundo muito pior do que o poderia ser se, para além do QI, desenvolvêssemos na mesma medida o QE.
Preocupamo-nos em estimular nas crianças a inteligência pura e dura, o raciocínio, a aprendizagem, mas transmitimos-lhes simultaneamente, pelo exemplo, conceitos de vida que de inteligentes muitas vezes nada têm.

Aceitamos como válidos comportamentos dignos dos homens das cavernas, dos tempos em que, mais do que viver, sobrevivíamos. Permitimo-nos agir por impulso, sem medir as consequências dos nossos actos. Não temos em conta os nossos melhores interesses, ou os dos outros, no médio/longo prazo. Não pomos as coisas em perspectiva, cedendo muitas vezes aos nossos instintos animais, desadequados aos tempos e à sociedade em que vivemos.

Segundo Daniel Goleman:
“Em termos de concepção biológica do circuito neuronal de emoções básico, aquilo com que nascemos é o que resultou melhor para as últimas 50 000 gerações humanas, e não para as últimas 500, e certamente não para as últimas cinco. As forças lentas e deliberadas da evolução que moldaram as nossas emoções fizeram o seu trabalho ao longo de um milhão de anos; os últimos 10 000 - apesar de terem assistido à rápida ascensão da civilização humana e à explosão da população de cinco milhões para cinco biliões - quase não deixaram marca nas nossas matrizes biológicas para a vida emocional.
Para o melhor ou para o pior, a nossa avaliação de cada encontro pessoal e as nossas respostas a estes encontros não são determinadas apenas pelos nossos juízos racionais ou a nossa história pessoal, mas também pelo nosso passado ancestral. [...] Em resumo, muito frequentemente confrontamos dilemas pós-modernos com um repertório emocional feito à medida das exigências do Pleistoceno.”

Tudo bem… mas estando conscientes desta questão será que não conseguimos mudar isto?!
Será que não está nas nossas mãos alterar a ordem das coisas?
Acredito genuinamente que, se todos fizéssemos um esforço consciente, se controlássemos o macaco que há em nós, se transmitíssemos a ideia aos nossos filhos, os educássemos nesse sentido, a humanidade saísse certamente a ganhar.
Temos inteligência suficiente para explorar o espaço mas não para nos comportarmos como seres civilizados e viver em harmonia com o próximo no nosso próprio planeta?! Não acredito…

terça-feira, 12 de abril de 2011

A fonte da juventude

COM MÚSICA



O nosso corpo, quer queiramos quer não, vai-se desgastando. Podemos poupa-lo, trata-lo e trabalha-lo em vários sentidos para retardar o envelhecimento, disfarçar alguns dos seus sintomas, no entanto, tarde ou cedo, iremos inevitavelmente sentir o peso da idade.
A mente, se não tivermos cuidado, tende também a degradar-se… parece-me no entanto bem mais susceptível de se manter firme, tonificada, flexível e saudável. ;)

Alguns alegam que a fonte da juventude é o Photoshop (lol), outros as operações plásticas e os avanços da medicina… a meu entender, uma das coisas que nos mantêm realmente jovens é a abertura de espírito aliada à capacidade de empatia com os vários estádios da vida humana.

Esta passa por várias fases, que vamos ultrapassando, uma após outra, metamorfoseando-nos em pessoas diferentes. Com o passar do tempo, temos ás vezes dificuldade em lembrar-nos daqueles que fomos.
Se conseguirmos, emocionalmente falando, manter viva a memória de outros tempos e acrescentar-lhe aquilo que fomos aprendendo pelo caminho, conseguiremos manter uma frescura acrescida de sabedoria.

Sentir-se jovem é conseguir efectivamente consolar uma criança, atormentada pelos terríveis dramas da meninice, compreendendo e atribuindo o devido peso aos seus desgostos ou receios, mesmo sabendo nós que não voltará a ter outra altura da vida em que se sinta tão mimada, tão protegida, tão segura, tão legitimamente irresponsável.

É, apesar de termos a noção de que quanto mais sabemos, mais sabemos que nada sabemos, conseguirmos fazer-nos ouvir por um adolescente que tudo sabe e ajuda-lo a questionar as suas certezas e a tirar as suas próprias conclusões.

É, sabendo que a vida é um arco-íris, com uma imensa variedade de cores e nuances, lembrarmo-nos de que em certas idades o bicho homem só consegue ver a preto e branco.

É, mesmo tendo descoberto que o amor só é mesmo eterno enquanto dura e que ao longo dos anos os romances irão enchendo as prateleiras, conseguirmos continuar a sorrir-lhe e a apoiar e respeitar as grandes paixões de juventude.

É valorizar e apoiar entusiasticamente aqueles grandes projectos que, sabemos nós, eventualmente não chegarão a ver a luz do dia, porque a vida nos reserva sempre um belo ramalhete de surpresas e as coisas nem sempre correm como queremos mas mais como calha.

É, no fundo, termos a capacidade de pontualmente regredir emocionalmente para podermos compreender, gerar empatia e, através dela, não só comunicar efectivamente, ultrapassando a eventual barreira das idades, como também continuar a aprender…

Com o passar dos anos e as pedras do caminho, há quem tenda a azedar, a tornar-se arrogante intolerante, prepotente. Quem perca a flexibilidade de raciocínio, se prenda a tradições ou  preconceitos sem futuro, se recuse a adaptar ás novas realidades de um mundo em constante mudança.
Tal como acontece com os músculos, a sua gana de viver parece definhar.
Tal como acontece com a pele as suas ideias parecem ganhar rugas e flacidez.
Tal como acontece com os órgãos, os seus raciocínios parecem começar a falhar.

Esses são os que se tornam velhos. 
Basicamente, só não nos podemos deixar esquecer do que é a juventude.


terça-feira, 5 de abril de 2011

Sonsices

COM MÚSICA



Há coisas nas nossas vidas, emoções, ideias, opiniões, actos, etc, que nem sempre são fáceis de assumir.  Se perante alguns o conseguimos fazer, perante outros a coisa já custa bastante mais.

As razões dessa dificuldade podem ser diversas… termos a noção de que são uma falha de coerência entre o que apregoamos e o que praticamos, a sensação de termos falhado algures, o não gostarmos de pedir desculpa, a consciência de que poderemos magoar ou ofender alguém, a vontade de agradar ou de nos enquadrarmos, orgulho, medo da exposição, etc.

Viver segundo as nossas convicções, conscientes dos nossos pontos fortes e das nossas fraquezas, aceitar que não somos perfeitos, reconhecer que cometemos erros e desculpar-mo-nos por eles se for caso disso, interiorizar que não se pode agradar a Gregos e a Troianos, ter a noção de que nem toda a gente irá gostar de nós, não são posturas fáceis, não senhores…

A vida é no entanto, a meu ver, para ser enfrentada com coragem… Acredito que se tivermos uma coluna vertebral sólida, apesar dos dissabores que possamos enfrentar pelo caminho, no fim sairemos sempre a ganhar.
Acredito que retidão e frontalidade sejam trunfos fortes nas relações humanas.

Não defendo a “verdade a qualquer custo”, lá porque sentimos, pensamos ou fizemos alguma coisa, não temos obrigatoriamente de a publicar no jornal.
A noção de diplomacia é, sem dúvida, um trunfo importante para quem vive em sociedade.  Não podemos fazer ou dizer tudo o que gostaríamos, temos de nos adaptar ás situações.

Como tal, todos temos várias faces, é natural, mudamos consoante as pessoas com quem estamos a lidar.
Uma coisa, no entanto, é mudar de tom de voz, de vocabulário ou de tema de conversa… outra é mudar como se de outra pessoa efectivamente nos tratássemos.
A este fenómeno costuma chamar-se sonsice.

Sou de opinião que, em termos de carácter, devemos investir no longo prazo. Tive ocasiões várias de comprovar que, o que fazemos para remediar as situações agora, optando pela solução mais fácil, que menos nos custa, que menos trabalho nos dá, acaba frequentemente com o famoso tiro pela culatra.

Por outro lado, a mentira (neste caso a sonsise) tem a perna curta.
O sonso tem geralmente uma que outra testemunha da sua sonsice.
Para além da figura de urso, que evidentemente faz quando é topado nestes esquemas, o que em si só não me parece muito grave, estará potencialmente a provocar dois efeitos altamente danosos em termos de relações humanas.

O primeiro só o lesa a si. Torna-se difícil confiar numa pessoa com várias caras, com várias palavras, com vários sorrisos, consoante a circunstância… o mais natural é que, ao se darem conta disso os outros fiquem de pé atrás.

O segundo, é o facto de frequentemente transformarem em  bodes expiatórios aqueles que, contrariamente a si, têm a coragem de pegar a vida de caras. Escondendo-se atrás das suas costas largas, beneficiando das suas atitudes, sem terem de suportar as consequências dos seus actos. Pode ser o melhor de dois mundos mas, meus amigos, que é muito cobardolas, ai isso é.

E ainda há quem ache os sonso kiduchos… quem os ache uns espertalhões… quem aprecie este joguinho das caraças… há sem dúvida gostos para tudo.