terça-feira, 31 de maio de 2011

Torre de Babel

COM MÚSICA


Há dias, a seguir a um telefonema desesperante, comentei com o meu filho, à laia de desabafo:
- “Ai, Pedro, o bicho homem é tãooo complicadinho...”
- “É por causa do que tem a mais do que os outros...”
- “E o que é isso?”
- “A fala!!!”

Perguntei-me então se não terá alguma razão.
A nossa linguagem, que deveria servir para nos fazermos entender, surte frequentemente o efeito contrário.

Quando um cão nos rosna, de dentes arreganhados ou um gato põe as orelhas para trás fazendo wóóóóóóóú, captamos a mensagem com toda a clareza. O mesmo acontece se o primeiro nos vier cumprimentar a dar ao rabo ou o segundo se deitar ao nosso colo a ronronar.

Com os humanos a coisa já funciona de outra forma...
Já todos devemos ter passado pela experiência de alguém nos dizer que gosta muito de nós, ou que pelo contrário não gosta, quando toda a sua linguagem gestual, o seu olhar, as suas acções, nos sugerem o contrário.
Ou de nos afirmarem que “não se passa nada”, quando os sentimos, sem grande margem para dúvidas, preocupados, tristes, chateados, etc...
Todos conhecemos pessoas que dizem A e fazem B, que fazem afirmações ou emitem opiniões totalmente diferentes consoante o ouvinte, que ao relata-los alteram ás vezes de tal forma os acontecimentos que criam uma realidade diferente...
Etc, etc, etc...

Quando a palavra é escrita, a coisa complica ainda mais, por não vir acompanhada de tom de voz ou expressão facial. O  discurso escrito, mais ainda do que o oral, permite frequentemente variadíssimas interpretações, sem que o autor possa detectar ou esclarecer, no momento, eventuais mal entendidos.

 “A falar é que a gente não se entende”, frase que tenho ouvido tão frequentemente nos últimos tempos e me faz amarinhar pelas paredes acima... terá afinal algum fundo de verdade?!
Terei talvez de dar a mão à palmatória.

Compreendo que se controle a palavra no sentido de preservar os sentimentos alheios. Que não ponhamos cá para fora tudo o que nos passa pela cabeça, simplesmente porque temos cordas vocais e acesso a uma linguagem articulada. Entendo as “mentirinhas inocentes”, os floreados, as metaforas, a ironia, as formas de expressão, as figuras de estilo... Sou apologista da auto-sensura, do pensar antes de abrir a boca, do não falar a quente.
No entanto, na minha ideia, a palavra deveria reflectir aquilo que realmente somos, aquilo que sentimos, aquilo que pensamos, e a realidade é que, na maior parte das vezes, não o faz.

O resultado é que dizemos uma coisa e as pessoas muitas vezes ouvem outra. Atribuem segundos e terceiros sentidos ao nosso discurso, tentam ler nas entrelinhas, duvidam, questionam as nossas razões, põem palavras em boca alheia.
As pessoas não se entendem a falar porque o que dizem, muitas vezes, não é de todo o que gostariam de, ou deveriam, dizer.
A maior parte delas não faz pegas de caras, só de cernelha e dado que tendemos a ver os outros à luz do que somos, partem do princípio de que funcionem da mesma forma, transformando o mundo numa verdadeira Torre de Babel.

“Say what you mean, mean what you say”

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mentologia

COM MÚSICA



Há relativamente poucos anos atrás, deitava os papeis dos rebuçados e as cascas das castanhas para o chão, sem sequer pensar duas vezes e tomava duches de meia hora (se a minha mãe não estivesse em casa...lol) com o maior dos prazeres. 
Hoje em dia sou incapaz de deixar torneira aberta enquanto lavo os dentes ou de deitar uma garrafa para o  lixo.

O homem deu-se conta da merda que andava a fazer à milénios, pôs travões a fundo e tenta agora salvaguardar o que resta do nosso belo planeta azul.
Para isso foi necessário que se apercebesse das consequências dos seus actos, que as interiorizasse e que começasse uma auto-educação, no sentido de preservar o seu habitat.

Da mesma forma que, ao longo da história, foi atentando contra a natureza e o meio envolvente, foi fazendo o mesmo com os seus iguais. As atrocidades que se cometeram nos tempos da escravatura, da inquisição, das conquistas, não têm qualificação possível em termos humanos.

Vivemos tempos difíceis, confusos, angustiantes, nota-se que a humanidade anda meio à toa. Não é no entanto de hoje nem de ontem que o homem se “porta mal”. Sem chegar aos extremos que mencionei acima, a realidade é que não tem sido propriamente exímio na arte das relações interpessoais. 
Perante esta evidência, em 1948 foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos do Homem.  Hoje, em pleno século XXI, grande parte dos artigos continuam diáriamente a ser ignorados. 

Referindo só alguns pontos, os menos extremos:
 “...devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade...” 
“...sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação....”
“...Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação...”
“...Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões...”
“.... A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos...”
Qualquer um de nós, olhando à sua volta, poderá facilmente apontar vários casos de violação a estas “regras”.

O pior é que somos frequentemente nós próprios a fazê-lo, sem sequer nos apercebermos. Reina a  falta de respeito, de consideração, de compreensão, de compaixão, de empatia pelo próximo, que justificamos esfarrapadamente, para apaziguar as nossas consciências. 
O comum dos mortais não comete crimes contra a humanidade, não deixa por isso de ser culpado de delitos menores, que em nada contribuem para a paz e harmonia entre seres humanos. 

Também disso nos estamos finalmente a aperceber e a agir a respeito.
A questão é que frequentemente se cai nos extremos o que, na minha humilde opinião, é contraproducente. 
Excandalizar-se com a água que gastam os leds dos telemóveis ou afirmar que as cenouras foram assassinada,s é perfeitamente ridículo. 
Também o são muitas das medidas que o homem tem inventado na esperança de consertar o estado das coisas, como o "politicamente correcto", por exemplo. 

As mudanças dão-se quando as pessoas interiorizam que certas atitudes não são saudáveis, não são benéficas. Quando percebem que, se fizerem um pequeno esforço, poderão melhorar em muito a sua relação com os outros. Quando decidem pôr em prática ideias tão básicas como  “a minha liberdade acaba onde começa a dos outros” ou “não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti”. Quando conseguem começar ver para além do seu próprio umbigo e a funcionar em termos de comunidade, para o bem de todos.

Se cada um de nós se der ao trabalho de alterar a sua mente, de praticar a “mentologia” associada à “ecologia”, será garantidamente “um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade”... ;)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Gostas mais do papá ou da mamã?

COM MÚSICA


Acreditem ou não, já ouvi fazer esta pergunta...

Em termos emocionais, certas pessoas parecem estar na vida como se de um concurso se tratasse, encarando o próximo como potencial concorrente.
Concurso de afectos, concurso de popularidade, consciente ou inconscientemente, alguns comparam-se constantemente com terceiros, controlando a sua própria posição numa escala imaginária.

Batalham pelo coração alheio, como se este não fosse um gigantesco órgão, de capacidade quase infinita. Não se parecem dar conta de que é possível  gostar simultaneamente de muita gente, de muitas formas. Querem à força lugar num pódio que na realidade não existe.

Estes sentimentos seriam inócuos se não passassem de macaquinhos no sótão de quem deles padece. A questão é que este espírito de rivalidade acaba invariavelmente por levar a antagonismos e animosidades. Como irracional que é, acaba frequentemente por gerar atitudes impensadas, que não trazem proveito a ninguém, inclusive aos “seres amados”.

Assim, é comum que, de uma forma mais ou menos consciente, tentem manipular estes últimos, denegrir os outros aos seus olhos, que exerçam chantagens emocionais, assumam um papel de vítimas, distorçam factos por forma a ficarem melhor na fotografia, etc... Tudo com vista a, de alguma forma, os forçar a escolher, a tomar partidos.

Que bem de tudo isto poderá advir, é o que muitas vezes me pergunto. Que prova de amor daí se retira é outra questão. Só me faz pensar na história do Rei Salomão, propondo cortar a criança ao meio. As nossas inseguranças não deveriam lesar terceiros, muito menos os que são importantes para nós.

A afectividade tem várias vertentes... amorosa, de amizade, familiar, etc. Estas não são exclusivas, não “tiram bocado” umas ás outras.
Em muitos casos, até pertencendo à mesma categoria, podem coexistir pacificamente. Uma mãe pode gostar igualmente de todos os filhos, mesmo que eventualmente  o demonstre de formas diferentes.

Assistimos no entanto a pais que se degladiam pelo amor dos filhos. A filhos que fazem o mesmo pelo dos pais. A namorados(as) que não descansam enquanto não afastam o outro dos(as) amigos(as) ou até ás vezes vice-versa. A relações amorosas que não admitem o relacionamento com alguém que tenha estado no seu papel no passado. Etc, etc, etc...
A realidade é que só ganhariam se vivessem em harmonia, se compreendessem que há lugar para todos.

Quem já assistiu ao jogo infame de dois pais em luta pelo amor de uma criança, terá noção do efeito devastador que pode ter, das sequelas que pode deixar.
Os adultos são mais resilientes, têm mais capacidade de encaixe, mais noção de que na vida nem tudo corre como gostaríamos. Não deixam por isso de ser afectados, de sofrer com estas guerras, de ver o seu mundo virar-se de pernas para o ar, de se sentir entre a espada e a parede.

Cada um de nós tem o seu papel na vida alheia. O seu papel presente, a sua função, a sua importância e estes não anulam os dos outros, reforçam-nos. As pessoas providas de inteligência emocional conseguem interiorizar isto e aliam-se em prol do bem comum, as outras fazem-se frente e dividem-se. São as que não conseguem compreender que é a união que faz a força, não o conflito.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Don Quixotes

COM MÚSICA



Como devem supor, o tipo de “conversa” que por aqui mantenho, em nada difere das que tenho ao vivo e a cores. A grande diferença está no feed-back, ganhando com o diálogo a percepção do que as pessoas pensam efectivamente de tudo isto.

Pois já não é nem a primeira nem a segunda vez que, relativamente à minha “frase estandarte” aqui em cima, comentam que é  muito bonita mas não passa de teoria
Meus amigos, este não é um blog de poesia, não o escrevo para ser bonito. Também não é um blog de ficção cientifica ou de histórias da carochinha.

Se escolhi a dita frase para o cabeçalho do blog é porque tem, de certa forma, sido a minha “bíblia” nos últimos anos. Por muito estranho que vos possa parecer, quando a descobri, interiorizei e passei a tentar pôr em prática, a minha vida mudou radicalmente.

Não, não é uma fórmula mágica que transforme a nossa passagem pela terra num mar de rosas. Não evita problemas ou desgostos, não é um escudo contra a dor, não faz milagres nem nos transforma em super homens… a sua compreensão, a interiorização do seu significado, proporciona-nos no entanto uma coisa que considero fundamental como base para que possamos ser felizes: paz de espírito.

Senão vejamos…

”… SERENIDADE PARA ACEITAR AS COISAS QUE NÃO POSSO MUDAR…”
Relativamente a esta parte até já afirmaram, inclusivamente, não estar de acordo.
Não estar de acordo?! Mas como é que se pode não estar de acordo?
Será que acreditam que tudo se possa mudar?!
Não podemos mudar o passado, o que aconteceu, o que dissemos, o que fizemos, por muito que gostássemos que tivesse sido diferente… Não podemos mudar os outros, está exclusivamente nas suas mãos fazê-lo… Não podemos evitar a morte, alterar a orbita da terra ou decidir que não descendemos do macaco…
Volta não volta, o que não podemos mudar revolta-nos, indigna-nos, agride-nos, magoa-nos… muitas vezes não o conseguimos sequer compreender, não faz qualquer sentido para nós.
Mas, se efectivamente chegámos à conclusão de que não o podemos mudar, não será então benéfico aceita-lo com serenidade?
Aceitar não quer dizer defender, apoiar, aprovar, louvar… aceitar é simplesmente concluir que não possa ser de outra forma, que não haja nada que possamos fazer para alterar a ordem das coisas. É encolher os ombros, respirar fundo e continuar com a nossa vida. Lutar, espernear, recusarmo-nos a encarar a realidade, não irá servir de nada. Se assumirmos que não está nas nossas mãos fazer seja o que for, pelo menos não gastamos forças desnecessárias a lutar contra moinhos de vento.

”… CORAGEM PARA MUDAR AS QUE POSSO…”
A vida, no geral, requer coragem, nunca ninguém nos prometeu que iria ser fácil.
Mudar certas coisas parece-nos ás vezes uma tarefa hercúlea. Sentimo-nos frequentemente tentados a desistir, perdemos as forças, o ânimo, a motivação.
Mas como se costuma dizer, “a sorte protege os audazes” e há poucas coisas tão gratificantes como a satisfação de concluir que mudámos alguma coisa para melhor… sim, que para pior não vale a pena. ;)
Podemos mudar muito mais do que julgamos. Coisas que tomamos como dados adquiridos, podem ser alteradas. Situações estabelecidas, hábitos enraizados, traços de personalidade, tudo se pode mudar se a isso nos propusermos. Podemos transformar-nos em pessoas diferentes, o rumo das nossas vidas está muito mais nas nossas mãos do que estamos habituados a pensar.
Isto não quer dizer que seja fácil… requer esforço, perseverança, paciência, fé, tolerância para com os falhanços, insistência e, claro, coragem.

“…SABEDORIA PARA PERCEBER A DIFERENÇA…”
É aqui que costuma dar ares de sua graça o D. Quixote que habita em cada um de nós…
Pessoalmente considero esta a parte, de longe, a mais difícil de levar a cabo. A vida tem muitos tons de cinzento e nem sempre é óbvio compreender o que podemos efectivamente fazer por ela.
As coisas parecem muito mais claras se forem vistas de fora, pela observação de terceiros.
Através desta damo-nos conta do esforço inglório que certas pessoas fazem para tentar alterar coisas relativamente ás quais nada podem na realidade fazer. Assistimos a batalhas titânicas contra inimigos invencíveis. Ao cansaço de nadar contra a corrente. À frustração de não conseguir levar água ao seu moinho. Quando uma situação nos contraria de sobremaneira, a tendência, o impulso, é fazer-lhe frente, tentar dar-lhe a volta, ir à luta. Infelizmente nem sempre isso é efectivamente possível.
Observamos também, pelo contrário, quem assista de camarote, impávido e sereno, ao total descambar do seu universo. De braços cruzados, aceitando uma sorte que poderia não ser a sua, se se desse ao trabalho de reagir, de arregaçar as mangas e fazer-se à vida. Estes,  tendem a achar que pouco ou nada se pode mudar, que o destino está traçado, que temos de viver com as características com que nascemos, de arcar estoicamente com tudo o que nos aparece pela frente.
Quando se trata de nós, no entanto, as coisas são sempre muito mais confusas. Perceber onde e como é possível agir para obter resultados, não é de todo evidente.
Se formos de natureza combativa, iremos frequentemente abraçar causas perdidas. Se formos brandos e resignados, iremos ver passar muitos navios.

Não duvidem no entanto da preciosidade da sabedoria que adquirimos ao conseguir destrinçar as situações ou da paz de espírito que estas três coisas nos proporcionam. ;)


quarta-feira, 4 de maio de 2011

A lei da selva

COM MÚSICA



O país está em crise, o mundo está em crise, o bicho homem está-se a passar… de repente é a lei da selva.
Não me lembro, do alto dos meus quarenta e seis aninhos, de nenhum período tão difícil como o que agora atravessamos e suspeito seriamente que, antes de melhorar, ainda piore. O mundo está a saque, as pessoas foram atiradas para fora de pé, perderam a margem de manobra, desapareceram as zonas de conforto.

Tal como as catástrofes naturais, a crise não poupa ninguém, levando tudo à sua frente. Se é verdade que uns são mais gravemente atingidos do que outros, a realidade é que poucos escapam ilesos. Os clientes não pagam ás empresas, as empresas não pagam aos fornecedores, os fornecedores não pagam aos empregados, os empregados não pagam aos senhorios… gerando-se um círculo vicioso. Coisas que até há pouco tempo tomávamos por garantidas, deixaram de o ser.

Assiste-se à falência de empresas que por cá andavam há muitos anos, marcos da nossa sociedade (já sem falar das outras), a pessoas que perdem as casas, os empregos, os meios de subsistência.
Os “pés de meia” são delapidados, os bens vendidos ao desbarato, trabalha-se por meia dúzia de tostões, sob pena de não se trabalhar de todo.
Muita gente não faz ideia se amanhã vai conseguir pagar o empréstimo da casa, a escola dos filhos, a conta do supermercado.
Os naturais imprevistos facilmente se transformam em dramas que em muitos casos ficam sem seguimento pois não há meios de o fazer.

Tudo isto provoca angústia, ansiedade, preocupação, medo, desespero… sentimentos que geram mau viver e trazem ao de cima o pior que há em cada um de nós.
Nestas alturas muitos entram em pânico, tornando-se totalmente irracionais, chegando a agir contra os seus próprios interesses.  Perdem os escrúpulos, fazendo aos outros o que não gostavam que lhes fizessem a si. Tornam-se pessimistas, derrotistas, não conseguindo sequer conceber melhores dias.

O facto de ser um problema geral não melhora de todo os ânimos, antes pelo contrário. Não se vê luz em lado nenhum e no meio da escuridão dificilmente se encontra esperança.
A situação está sem dúvida alguma muito negra.

É no entanto preciso não esquecer que “depois da tempestade vem a bonança” e que, enquanto isso não acontecer, quer demore muito ou pouco tempo, está nas nossas mãos garantir alguma qualidade de vida.

Se, perante as adversidades, respirarmos fundo e pusermos o cérebro a funcionar, já é meio caminho andado. Entrar em pânico, julgo eu que  nunca tenha resolvido nenhum problema. Convém tentar manter a cabeça fria a cada problema que surja, analisa-lo e tentar descobrir a melhor forma de o resolver. Só a morte não tem solução.

Nestas alturas o longo prazo deixa de fazer grande sentido, ninguém sabe o que será o amanhã. Assim, ir vivendo o dia a dia, um pé à frente do outro, lidando o que se nos depara no imediato e ir resolvendo as questões uma a uma, conforme se nos vão apresentando, permite-nos manter o fôlego. Se olharmos para o todo desmoralizamos, a montanha vai-nos parecer demasiado alta, possivelmente não nos sentiremos com energia para a enfrentar.

Passar os dias a devorar e transmitir tudo quanto é notícia sobre o estado das coisas, também não me parece de todo saudável. Nestas alturas as pessoas tendem a obcecar, não conseguindo ver mais nada à frente e não tendo assim um minuto de descanso.

Um alheamento de quando em quando parece-me fundamental, gozar de momentos que não nos remetam para a situação negra que vivemos. Confraternizar com os amigos sem falar em chatices, ver um filme leve que estimule o nosso lado mais idealista, mais optimista, apreciar um dia bonito ou uma bela paisagem… enfim, continuar a gozar do que não é afectado pelo estado das coisas.

Por outro lado, se há momentos que apelam à compaixão são mesmo estes. “Ser uns para os outros” é muito mais benéfico do que “puxar a brasa á nossa sardinha”, muito mais gratificante, muito mais produtivo. Se nos ampararmos mutuamente, apoiando e ajudando no que for possível, todos ganharemos força e calor. Já dizia o povo, “unidos venceremos”. O salve-se quem poder, o cada um por si, parecem-me totalmente contraproducentes.

Ser-se positivo e optimista, o que não quer dizer alucinado e irrealista, parece-me igualmente imprescindível. Pessoalmente acredito piamente na teoria da “lei da atracção”. Acho que, estar sempre a imaginar o pior cenário possível, atrai isso mesmo. Com os pés bem assentes na terra e a noção daquilo com que estamos a lidar, acreditemos que, de uma forma ou de outra, tudo se há de resolver. Estou convicta de que essa postura ajude a que assim seja.

Finalmente, há que ter a noção de que as coisas mais importantes da vida não passam através do dinheiro e isso não mudou. O amor, a amizade, a saúde, são coisas que nada pode pagar. Aprecia-los, acarinha-los, valoriza-los, dar-lhes a devida importância, sem deixar que os problemas os ofusquem, soa-me absolutamente imprescindível para aguentar a borrasca, por um lado, e para relativizar as coisas por outro.

Let’s prepare for the worst and hope for the best. ;)