terça-feira, 11 de outubro de 2011

Assuntos em ordem

COM MÚSICA


A morte do Steve Jobs mexeu mais comigo do que alguma vez poderia ter imaginado...
Poderá talvez dever-se ao facto de ter acontecido numa altura do mês em que estou sempre especialmente sensível ou simplesmente á descoberta, instigada pela curiosidade, do grande homem que aparenta ter sido, em mais do que um sentido.
Bem, o certo é que, entre outras coisas, me pôs a pensar sobre o assunto.

Há quem se sinta desconfortável com o tema da morte. Quem não goste de falar ou sequer de pensar nela. Há pessoas a quem a simples noção angustia e gera ansiedade, tal como a mim o faz a de infinito (um dia conto-vos).
O pior de tudo parece ser encarar a própria. Se alguns conseguem enfrentar a dos outros com uma certa coragem, a ideia da sua é-lhes intolerável.

A mim, esse medo é uma cena que não me assiste. lol
Desde que me lembro, sempre encarei a morte como a coisa mais natural da vida.
Talvez por isso tenha tido aquela ”ideia de génio” aos quatorze anos... simplesmente não tinha medo.

Não digo de forma alguma que, se amanhã me anunciassem que tinha X tempo de vida, fosse ficar descontraída, feliz e contente. 
Deve ser absolutamente aterrador e não invejo quem já teve de passar por isso.
Quero aliás deixar aqui um grande beijinho a alguns, que sei que me leem de vez em quando, e que já passaram pela experiência de lhes ser dada uma notícia do género.

O que quero dizer é que, para mim, tendo perfeita consciência de que é uma coisa inevitável, aceito-a com a mesma naturalidade com que aceito o meu nascimento. Não lhe resisto. Basicamente, todos lá iremos parar (em sentido próprio).

Em grande parte graças ao amigo Steve, consegui então, de certa forma, racionalizar e compreender tudo isto... tive uma epifania na parte do discurso em Stanford em que ele relata que o médico o aconselhou a “pôr os assuntos em ordem”.
Pus-me a pensar no que faria se me dissessem isso... pensei... pensei... e  nada me ocorreu que precisasse de ser posto em ordem. lol

Deu-se então a tal epifania... eu tenho mantenho sempre tudo "em ordem"!!!
Isto não quer dizer que já tenha dito tudo o que tinha a dizer, feito tudo o que tinha a fazer, dado tudo o que tenho a dar. 
Não quer dizer que esteja pronta a entregar a alma ao criador. 
Não quer dizer que não tenha muita coisa por resolver, muitos assuntos para tratar.
Seriam no entanto exactamente os mesmos, se me lessem uma sentença de morte.

Julgo que não faria nada diferente.
Não tenho nada por resolver que pudesse já ter resolvido ou resolver agora, de repente, só porque tinha uma deadline.
Dou constantemente a entender àqueles de quem gosto, por actos, por palavras, como as valorizo, como as aprecio, como são importantes para mim. 
Gozo da sua companhia sempre que é possível e oportuno.
Logo que dou por um erro da minha parte, uma atitude que assuma como menos correcta, uma injustiça que tenha cometido, tento retratar-me, peço desculpa.
Não há nada que gostasse de dizer a alguém que não tenha já dito.
Não me arrependo de nada que alguma vez tenha feito e ainda pudesse de alguma forma corrigir.
Não acho que conseguisse transmitir, nuns meses, nuns anos, tudo aquilo que gostaria de transmitir numa vida aos que me rodeiam. Não dá para “compactar”... a vida é para ser vivida e partilhada, não resumida.
Também não me parece que pudesse dar-me melhor a conhecer, “para mais tarde recordarem”. What you see, is what you get, tem sido o meu lema. Tenho também largado muito lastro por aí, como aliás qualquer um de nós. As nossas pegadas ficam.
Não há nada que gostasse de fazer, nenhum sítio onde gostasse de ir e tivesse oportunidade/pudesse/quisesse/conseguisse agora,  lá porque “as condições de vida” tinham passado de vitalícias para contrato a prazo.
Finalmente, não acredito em “últimas vontades”, tenho experiência suficiente do que lhes acontece. Que o diga a minha pobre avó, que jaz ao lado da sogra que não gramava, quando sempre gritou  aos quatro ventos que queria ir “para a terra”.

A brilhante conclusão a que cheguei então, foi a de que para que a morte não nos assuste, dado que é tão inevitável como encher os pulmões de ar quando nascemos,  ajuda muito vivermos com as coisas permanentemente em dia. 
Meus amigos, não se assustem, nem levem isto no mau sentido, mas... ponham os vossos assuntos em ordem! ;)


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