terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Remodelações

COM MÚSICA



Todos somos bonecos de plasticina, que a vida vai modelando.
Ao longo do tempo, com o desenvolvimento do raciocínio, a aquisição de conhecimentos, a acumulação de experiências, vamo-nos transformando, lenta mas seguramente. Não somos a mesma pessoa aos dez, aos vinte, aos trinta, aos quarenta...
Estas mudanças costumam ser graduais, quase imperceptíveis, algumas inconscientes, só se dando muitas vezes por elas ao comparar com o passado.

Há no entanto situações, experiências de vida, que provocam alterações mais rápidas, mais radicais, mais evidentes, coisas que nos mudam quase que “de um dia para o outro”.
Curiosamente, é frequente que mais depressa os outros dêem por isso do que nós próprios, o recuo, como toda a gente sabe, facilitando a visão...

Esses outros irão inevitávelmente, consciente ou inconscientemente, fazer julgamentos de valor relativamente a essa mudança, medir se esta foi para melhor ou para pior.
Esta será sempre, sem a mínima sombra de dúvida, uma avaliação subjectiva.
Já todos devemos ter utilizado expressões como “fez-lhe bem isto”, “fez-lhe mal aquilo”... que não são mais do que a verbalização das nossas próprias conclusões e valem o que valem.

A realidade é que as relações humanas, quer queiramos quer não, estão em permanente avaliação. A não ser que não tenhamos mesmo outra hipótese, tenderemos a rodear-nos daqueles por quem sentimos empatia, que apreciamos, respeitamos, com quem estamos em sintonia de princípios, ideias, posturas.

Se é verdade que, volta não volta, damos de caras com surpresas de mudança extremamente agradáveis e que melhoram substancialmente o nosso relacionamento com outra pessoa, casos há também em que acontece exactamente o contrário.

Vamo-nos dando conta de que a pessoa que conhecíamos já não está lá, já não existe, foi substítuida por outra que não é própriamente do nosso agrado. Quando começamos a suspeitar sériamente de que não regressará, pelo menos nos próximos tempos, a tendência natural é o afastamento.

Há no entanto, a meu ver, um erro grave que se comete frequentemente, dos dois lados: a renegação do passado.
Os  que testemunham a dita mudança, convencem-se de que se deixaram enganar, de que o outro não era bem o que aparentava.
Este de que afinal os outros não tinham por ele o apreço que julgava que tivessem.

É sem dúvida a solução fácil.
Quem se afasta não tem de encarar que perdeu efectivamente alguma coisa.
 “A certa altura teremos de compreender que algumas pessoas podem ficar no nosso coração mas não na nossa vida”
 Quem mudou não tem de assumir qualquer responsabilidade na questão.
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim.”

No entanto, passar assim uma borracha sobre o que de bom se teve em comum, como se nunca tivesse passado de uma ilusão, para além de nos fazer duvidar do nosso próprio discernimento, afecta o passado  desprovendo-o de valor e deixando na boca um sabor amargo doce.  
Há que ter confiança na memória das nossas emoções, em vez de tentar altera-la á posteriori. Se sentimos que alguma coisa foi efectivamente importante para nós, há que deixa-la ser, mesmo que tenhamos tido de abrir mão dela.

Ao longo dos tempos, por variadíssimas razões, as pessoas vão entrando e saindo das nossas vidas. As relações vão-se alternando, nascem umas, morrem outras, umas serão mais curtas outras mais longas, umas mais fortes, outras mais superficiais... mas “a César o que é de César”, atribuamos a cada uma o valor que lhe é devido.









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