terça-feira, 8 de abril de 2014

Someone to chase…



Pessoalmente simpatizo com o Matthew McConaughey, tanto quanto é possível simpatizar com alguém que não conheço de lado nenhum…

Gostei bastante do seu discurso de aceitação do Oscar.
[…] someone to look up to, something to look forward to and someone to chase […]
Passando à frente dos dois primeiros, afirmou que esse “someone to chase”, o seu herói, era ele próprio, daqui a dez anos. Que sabia que nunca iria realmente chegar a ser o seu herói mas que não desistiria de o perseguir e tomar como exemplo.

Interpretei as suas palavras como estando consciente de que não é perfeito, sabendo que tem ainda muitas arestas por limar, muito trabalho pela frente, mas estando decidido a não desistir de perseguir um ideal de si próprio, mesmo sabendo que nunca lá chegará. 
Não podia sentir mais empatia por esta postura.

Qual não é o meu espanto quando, nos dias que se seguiram, não só nos media como nas minhas próprias relações, o homem foi crucificado, apelidado de narcisista,  cagão,  convencido e de sei lá mais o quê.

Certo, estamos a falar de gente que na sua maioria não conhece provavelmente o senhor de parte nenhuma e neste caso o julga por meia dúzia de palavras que proferiu em público.
Acontece que é o que se passa com todos nós, não precisamos de ser figuras públicas.
Somos constantemente avaliados, julgados, etiquetados, por aqueles com quem, de alguma forma nos relacionamos, directa ou indirectamente.
Tudo o que dizemos ou fazemos é visto à luz dos olhos de cada um e interpretado por si.

Os nossos actos e palavras têm um sentido para cada um daqueles com quem interagimos.
A forma como nos vêem depende daquilo que são, daquilo em que acreditam, do que pensam, da forma como os fazemos sentir.
Mais, nem são só as nossas acções que acabam por nos definir mas o filme que fazem das mesmas, a sua  própria versão. As pessoas vêm o que querem ver e isso depende maioritariamente delas, não de nós.

Embora só agora esta questão me tenha inspirado um post, já muitas vezes tenho divagado interiormente sobre o tema. 
Quando leio sobre figuras públicas, por exemplo, pergunto-me sempre até que ponto serão  ou terão sido realmente tal como as apresentam.
As afirmações categóricas sempre me irritaram de sobremaneira. Não me refiro a factos, mas sim a intenções, posturas, ideias, sentimentos…

Mas “irritation is futile”, é mesmo assim que as coisas funcionam, todos vemos os outros através dos nossos próprios olhos. 
Não só analisamos e interpretamos o que de facto dizem e fazem como, que nem verdadeiros Hercules Poirots, colmatamos as lacunas do que não sabemos com assunções geradas pelo nosso próprio cérebro.
Cada um de nós acaba assim por ser a soma das várias versões que os outros criam.

Sobre parte disto temos algum controle, podemos medir as palavras que proferimos, ponderar os nossos actos, gerir a imagem que queremos transmitir. A etiquetagem final não está no entanto nas nossas mãos e as conclusões serão sempre e inevitavelmente subjectivas.

Figura pública ou privada, haverá sempre a nosso respeito opiniões mais e menos lisonjeiras, empatias e antipatias, posições mais obtusas ou radicais, em ambos os sentidos.
Mesmo aqueles que são considerados simpáticos pela maioria, têm os seus antagonistas, “haters gonna hate”, e até os seres mais odiados da historia do universo tiveram quem os amasse.

A opinião dos outros a nosso respeito, sobretudo se, tal como o Matthew McConaughey, tivermos pretensões a ir sempre melhorando ao longo da vida (hehe), é importante porque nos serve de bitola. Podemos ir ajustando o nosso comportamento, a nossa postura, consoante as suas reacções. Dado que a nossa maior interacção é com outros seres humanos, eu diria que ter uma relação agradável com os mesmos é uma prioridade.

É um erro no entanto querer agradar a Gregos e a Troianos, sob pena de perdermos a nossa coluna vertebral.
A opinião dos outros não nos deve servir de guia mas de referência. A sua reacção deve ser encarada como um espelho e não como um tribunal, e sem nos esquecermos de que alguns espelhos deformam.
Façamos o que fizermos, digamos o que dissermos, há-de sempre haver quem nos interprete mal, quem acredite no que lhe dizem a nosso respeito, quem nos atribua actos ou intenções que nunca existiram e perante tudo isto reaja em conforme, viciando assim a sua apreciação.

A única pessoa para quem realmente "somos" consistentemente, somos nós próprios, para todos os outros não passamos da ideia que fazem de nós.
É portanto a nós próprios, acima de todos, que devemos agradar, orgulhar, prestar contas e prometer melhorar. ;)


COM MÚSICA
Gloria Gaynor - I Am What I Am

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