terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Meio Século





No Sábado passado fiz cinquenta anos!
Qual é a diferença entre fazer 49, 50 ou 51, perguntar-me-ão vocês… teoricamente muito pouca, evidentemente. No entanto, talvez por vivermos num mundo “decimal”, a realidade é que a passagem de uma década para outra mexe sempre connosco. Tipicamente nestas alturas fazemos pontos da situação, analisamos o que foi, imaginamos e planeamos o que pode vir a ser.

Quando estamos à espera de bebé, parece que de repente vemos grávidas por todo o lado. Reparamos muito mais nas crianças que nos rodeiam. Pomo-nos a galar os carrinhos que passam por nós. Tornamo-nos muito mais atentas às conversas sobre o tema.
Se pensamos comprar determinado carro, reparamos de repente que há montes deles em circulação. Se alguém que conhecemos tem um igual, observamos todos os detalhes com muito mais atenção, fazemos perguntas, lemos avaliações, fazemos comparações.

Quando caminhamos para velhos, é igual.
Parece que subitamente o mundo está cheio deles e passamos a vê-los com outros olhos. Interessamo-nos por questões que dantes considerávamos não nos dizer respeito. Artigos sobre temas relacionados, pelos quais anteriormente passávamos como cão por vinha vindimada, despertam-nos agora curiosidade. A análise da forma como os outros enfrentam a idade torna-se um exercício interessante.

Cinquenta anos é ser-se “velho”?!
Claro que não, de forma alguma, só mesmo aos olhos dos putos. lol
Pelo que consegui averiguar, actualmente a esperança de vida das mulheres, em Portugal, é de cerca de 82 anos. Isto quer dizer que aos cinquenta ainda têm potencialmente pela frente quase outros tantos. Se forem da laia do Manuel de Oliveira poderão mesmo duplica-los e ainda continuar por aí fora alegremente… ;) Sendo que a ciência e a medicina evoluíram de tal forma que tudo isto se passa com cada vez mais qualidade de vida.

Agora, novos já não somos, não… isso, só os muito mais velhos é que afirmam. lol
É mais ou menos por esta altura que a máquina começa a dar sinais de desgaste. Corpo e mente começam a baixar a performance, a perder a fiabilidade. De repente precisávamos de braços mais compridos, temos mais cerâmica na boca do que marfim e se nos sentarmos no chão mais de dez minutos é preciso chamar uma grua. Não vivemos sem agendas e lembretes. A máquina fotográfica deixa de ser amiguinha. O tema da morte passa a ser assunto de reflexão.

Há quem se deprima muito com tudo isto, quem tente desesperadamente remar contra a maré, agarrar-se com unhas e dentes a uma aparência e um estilo de vida que já não são nitidamente os seus.
O sentimento de perda é uma coisa complicada.
Encarar a idade como tal parece-me no entanto muito redutor, é ver o copo meio vazio.
Sempre acreditei que quando se fecha uma porta se abre uma janela. Como dizia a minha professora de história da arte, quando mudávamos de período, “não é melhor, nem pior… é diferente”.
A maior parte das pessoas só aprecia o que gostaria de ter ou eventualmente perdeu, não dá realmente valor àquilo que tem. Compara-se constantemente com os outros, mas sobretudo com os que, na sua opinião, estão melhor, em melhor forma, mais bonitos, mais elegantes, mais saudáveis, mais novos. Vê-se através dos olhos alheios, dá uma importância disparatada ao que os outros pensam…

Assim é de facto complicado não stressar com a idade.
Por um lado, cada vez mais aqueles que nos rodeiam irão ser mais novos que nós. Haverá cada vez mais gente a achar que estamos velhos e por velhos entenda-se muito pior do que estamos na realidade. lol
Por outro, se nos agarrarmos ao que ficou para trás, dificilmente conseguiremos realmente curtir o que temos pela frente. Se nos considerarmos no início do fim, para muitos de nós, irá ser um fim terrivelmente longo, uma verdadeira chatice. ;)

O convívio com gente de várias idades, géneros, opiniões, etc, é, na minha opinião, do mais salutar que há. Abre horizontes, fornece matéria para reflexão, mantém-nos actualizados e ligados à realidade.
O convívio regular com malta da nossa faixa etária é, na minha opinião, fundamental. É o que faz com que não sintamos tanto o peso da idade, darmo-nos conta que é realmente o curso natural da vida, que é quase igual para todos e sobretudo que ainda temos imenso para dar e receber.

O nosso grupinho do Tarot já perfaz uma idade somada próxima dos trezentos anos… hehe… as nossas quintas-feiras são uma galhofa, estamos todos sensivelmente no mesmo estado e não nos coibimos de gozar com o assunto. Não há melhor remédio do que o sentido de humor e não nos levarmos demasiado a sério. Estamos no entanto todos no mesmo barco e compreendemos bem como os outros se sentem, pelo que estão a passar, o que é muito reconfortante.
Não consigo sequer imaginar como se possam sentir os velhos jarretas e as barbies enrrugadas, pela “night” fora, a tentar “enturmar” com putos que quase poderiam ser seus netos.

Acreditem se quiserem mas não trocava os meus cinquenta anos pelos vinte de ninguém. :)


COM MÚSICA

4 comentários:

  1. Obrigado pela lisonjeira referência ("melhor, em melhor forma, mais bonitos, mais elegantes, mais saudáveis, mais novos").

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Era evidentemente no Vasco em que estava a pensar, lamento...
      hehe

      Eliminar
  2. Prima, adorei! Também fiz 50 (ano passado). Bjs

    ResponderEliminar
  3. Pois é Filipa, temos quase a mesma idade... e agora até o cabelo está parecido, já viste?! ;)
    Ainda bem que gostaste. :)))

    ResponderEliminar