quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O peso dos segredos




       Todos temos os nossos “jardins secretos”, coisas que ninguém precisa de saber porque são só nossas, não têm qualquer implicação na vida dos outros, ninguém tendo assim nada a ver com isso. Podemos, eventualmente, decidir partilha-los, sendo perfeitamente legítimo pedir discrição. Para além destes, tal como os crimes, os segredos, podem ser públicos, semi-públicos ou particulares, assumindo cinquenta sombras de cinzento… 
       Pessoalmente, embora consiga evidentemente considerar questões relativamente ás quais o sigilo seja aconselhável ou até mesmo necessário, sou grande apologista da transparência, cada vez gostando menos de segredos. Estes não passam, a meu ver, na sua grande maioria, de uma recusa de enfrentar, reconhecer, assumir, certos factos da vida. Há quem viva refém dos segredos, gente para quem muito tem de ser dissimulado, escondido, calado, encoberto. Essas pessoas carregam às costas um peso imenso. Dizem os alcoólicos anónimos que “o tamanho do teu segredo é o tamanho da tua dor” …  
       Acredito, tal como defendi neste post, que a nossa qualidade de vida passe enormemente pela coragem com a qual enfrentamos o dia a dia. A maior parte dos segredos revela, a meu ver, cobardia. Servem para tentar tapar o sol com a peneira, como se pelo facto de não se falar sobre determinadas coisas elas não existissem.  São também uma forma de fugir de confrontos, atritos, explicações, justificações. Todos eles fazendo parte integrante da vida, mais vale, a meu ver, enfrentar o touro pelos cornos. 
       Quem não conheceu já o poder libertador de uma confissão?! Quantas vezes o que guardamos dentro de nós não nos consome, nos corrói. Aquilo que calamos pesa-nos frequentemente muito mais  e durante muito mais tempo do que as consequências de o pormos cá para fora. Por outro lado, adiar enfrentar o que muitas vezes é inevitável, olhar de frente certas realidades, acaba por só acentuar o sofrimento. Como se costuma dizer, não mata, mas mói.
       Os segredos criam barreiras entre as pessoas, levam ao isolamento. Se não pudermos falar abertamente sobre as coisas da vida, partilha-las com os outros, esta acaba, inevitavelmente, por se tornar muito solitária. Para além disso, guardar determinados segredos, frequentemente implica mentir, o que talvez não a toda a gente, mas provavelmente à maior parte, provoca incómodo, desconforto. Pior ainda, quando sabemos que alguém é uma  “caixinha de segredos” acabamos por pôr constantemente em questão a sua franqueza, a autenticidade do que nos diz, instalando-se a desconfiança e a insegurança nas relações.
       Mas o pior de tudo são os segredos que nos são impostos, segredos que, por lealdade para com quem connosco os partilhou, nos sentimos compelidos a guardar, quantas vezes sem sequer conseguir compreender porquê. Segredos esses que ás vezes só nos apresentam como tais depois de no los terem já contado. Que nos forçam a ser dissimulados ou até mesmo a mentir, impedindo-nos de ser verdadeiros com outras pessoas por quem temos o mesmo respeito e consideração. Que, inclusivamente, nos chegam a obrigar a ir contra os nossos próprios princípios. Que nos fazem fazer figura de ursos, mantendo conversas absurdas com outros que também eles guardam o mesmo segredo sem que o saibamos. Que, quantas vezes, quando vêm a lume, geram revolta ou ressentimento contra nós, fiéis depositários involuntários dos mesmos.
       A maioria dos segredos, cedo ou tarde chega ao domínio público, seria assim perfeitamente escusado terem essa qualidade. Pedir simplesmente para que não fossem apregoados aos sete ventos, confiando na descrição e sensatez do recipiente, deveria ser mais do que suficiente. 
       Uma coisa vos digo, a mim não me venham contar mais segredos, não quero saber, prefiro viver na ignorância.



COM MÚSICA

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