terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Mais vale tarde...



   Hoje este blogue faz 11 anos, yééé, parabéns Sopa! ;)
   Amanhã faço eu 53 e, tal como o pato da canção, também venho cantando alegremente, quá,quá... ;)
   Se olhasse friamente para a minha vida actual, encontraria mais razões para chorar do que para cantar... mas estou apaixonada, e a paixão é cega. Ultrapassado o meio século descobri a minha verdadeira vocação e ando completamente de cabeça perdida.
   Acabei o liceu sem a mais pequena ideia do que queria ser, agora que já era grande. Fui para fotografia, mas rapidamente me dei conta da minha mediocridade nessa area. Segui então para design de moda, esquecendo-me de um pequeno detalhe; não sei desenhar. Assim, ao fim de cerca de sete anos de estudos, tinha regressado ao ponto de partida; que raio vou eu fazer com a minha vida?!
   A partir daí improvisei, atirando-me literalmente a tudo – não vos passa pela cabeça a secaaa de trabalhos que tive de fazer ao longo da vida - o que me permitisse ir mantendo a cabeça fora da água. Com autodidatismo, movi-me por várias áreas, chegando a dominar várias delas com bastante competência. Colaborei também em vários projectos com outras pessoas, abracei alguns sozinha, tive ideias, tive sonhos, tive esperança, tentei, dei o litro, falhei.
                                                     

      A realidade é que, mal ou bem (geralmente mal…lol), fui conseguindo ganhar o suficiente para viver. Mas uma coisa nunca tinha retirado do meu trabalho até hoje; genuíno prazer!
   A idade é uma coisa curiosa, vamos perdendo em termos físicos, mas ganhando em termos intelectuais e emocionais. Não gostaria de voltar à adolescência nem que me pagassem. A não ser a saber o que sei hoje, claro, isso é que era…    Dito isto, ali à roda do meio século - provavelmente não exactamente no dia dos meus anos, estilo bactéria do iogurte que, como toda a gente sabe, ataca à meia noite do dia do fim do prazo de validade - mas mais ano, menos ano, entrei numa crisezinha existencial. Às tantas dei por mim a perguntar-me se realmente iria passar o resto da vida a trabalhar para aquecer (quase em sentido próprio… lol).
   A decisão de escrever o livro foi já um sintoma disto. Nunca tive, no entanto, grandes ilusões – e agora que conheço um bocadinho melhor o meio livreiro não tenho nenhumas mesmo – de vir a fazer algum dinheiro que se visse com ele. Só alguns eleitos se safam financeiramente partilhando as suas palavras. Dediquei-me assim a ele mais para fazer o gostinho ao dente do que na esperança de algum dia vir a conseguir viver da escrita.
   Para além desta, a que desde de miúda me entrego, o meu outro grande prazer, descoberto já bastante mais tarde, são as manualidades. Não aprendi a fazer tricot e crochet em menina, ensinada pela mãe a avó ou a tia, fui aprendendo sozinha, na net, já muito depois de atingida a idade adulta.
   Costuma dizer-se que “a necessidade faz o engenho” e é bem verdade. Debatendo-me há anos com enormes dificuldades financeiras, em que comprar, seja o que for, não é propriamente opção, não me deixei atrapalhar e, o que não consigo comprar, faço-o eu. E foi assim que tudo começou, obrigada crise, que fizeste desabrochar a engenhocas que há em mim. Fiz, luvas, vestidos, camisolas, casacos, meias, remendos para cobrir os buracos nos ténis, malas, candeeiros, vide poches, tampas de açucareiro, armários, hortas, e sei lá mais o quê…
   Nesta luta para pôr comida à mesa, lembrei-me então de fazer coisas para vender. Um dia chegou uma amiga cá a casa, entusiasmadíssima, a dizer que tinha visto um colete em crochet giríssimo, na Zara. Mostrou-me a foto e perguntou se não queria fazer-lhe um igual, que preferia dar-me o dinheiro a mim do que a eles. O dito cujo estava à venda por 20 ou  30 euros, eu demoraria, no mínimo, uma semana a fazê-lo. Dei-me assim conta de que por esse trilho não iria a lado nenhum. Com tanta coisa gira à venda nas lojas, por meia dúzia de tostões, o artesanato não é, infelizmente, valorizado hoje em dia. Fiquei assim  com um montão de prendas giríssimas em casa. lolololol
   Por entre os afazeres de quem não tem dinheiro para gastar mas tempo tem de sobra, decidi cobrir de crochet e frioleira endurecidos umas bolas de bilhar antigas, que andavam aqui por casa.


    Foi então que tive uma epifania; ia dedicar-me à Arte Têxtil!
   Isto passou-se antes do último verão e estive até Setembro a produzir freneticamente, em segredo total. Para além da parte manual propriamente dita, passei horas e horas à frente do computador a estudar como se faz isto ou aquilo. Santo YouTube!!! Quando não existia (ou era demasiado cara) a “ferramenta” para fazer o que eu queria, inventava-a e construia-a eu. Assim, improvisei um tear com a estrutura de uma tela, fiz lançadeiras, um utensílio para malha circular em Fimo e inventei um tear circular utilizando um bastidor e molas de escritório. Deste estou mesmo muito orgulhosa porque foi uma ideia de génio – modéstia à parte, lol – que tem sido incrivelmente gabada por quem entende do oficio.


    Até que me ocorreu que talvez não fosse má ideia perguntar às pessoas o que achavam pois, se o meu trabalho não tivesse aceitação, talvez mais valesse dedicar-me à pesca…
   Muito insegura e receosa das reacções, fui mostrando as minhas obras a alguns eleitos por entre as minhas relações próximas. Todos afirmaram gostar muito, mas apesar de tudo eram suspeitos, quem gosta de nós tende a dar-nos palmadinhas nas costas, mesmo que sejam palmadinhas piedosas.
   Resolvi então criar a página do Facebook, para testar com malta teoricamente mais isenta. Comecei logo a receber elogios incríveis, mais, e mais entusiásticos, confesso, do que estava à espera.
   Passei também a utilizar a conta do Instagram, que tinha aberto quando este apareceu, mas onde nunca mais tinha voltado a pôr os pés. Os seguidores têm vindo a crescer de dia para dia, entre os quais alguns que são, para mim, verdadeiros “monstros sagrados” deste tipo de artes. Imaginem como se sentiriam se fossem pintores, por exemplo, e recebessem notificações a dizer “Picasso começou a seguir-te”, “Salvador Dali fez-te um gosto”… (e se tivermos em conta que ambos estão mortos, então, seria mesmo do além… lololol) O meu coração disparou.
   A partir daí foi a lócura. As coisas começaram a desenvolver-se a uma velocidade verdadeiramente alucinante. Recebi encomendas, vendi quadros, fui convidada para expor numa feira, candidatei-me a um concurso internacional de Arte Têxtil, fui mencionada num blog,  estou a preparar workshops e fui convidada por uma galeria para fazer uma exposição individual em Abril.


    É tão, tão, tão, verdade, que até parece um sino!!! Neste momento trabalho 7 dias por semana, dia e noite. Noite?! Sim, trabalho durante o sono, resolvo questões técnicas, tenho ideias luminosas, acordo a meio da noite e tomo notas. Levo o trabalho para todo o lado - olhem aí a sorte de não fazer pintura a óleo ou esculturas em pedra, hehe – feltro na lavandaria, teço nos consultórios, tricoto no carro enquanto espero por alguma coisa. Ando exausta, toda partida, tive tendinites, contraturas musculares, dores nas costas, vista cansada... Se quiserem ter uma pequena noção do trabalhão que tudo isto dá, vejam alguns dos “Making Of” no separador “fotos” da minha página do Facebook.
   Como lá digo; “tenho o cérebro a mil e as mãos inquietas”! Tudo isto, movida pela tal paixão que me faz minimizar todos os problemas e na esperança de nunca mais ter de voltar a trabalhar com sacrifício, de não ter de voltar às “coisas chatas” como diz uma amiga minha, porque, depois de ter experimentado esta sensação, ia ser imensamente duro.
   Se julgam, no entanto, que está a ser fácil, que tudo são rosas, desenganem-se. Para além de uma série de outros problemas que nos assombram a vida, neste momento o agregado familiar está basicamente sem rendimento, estamos a viver da ajuda dos nossos pais e de um pé-de-meia que felizmente temos. Mas não julguem que é uma meia daquelas gigantes que se põem ao pé da lareira no Natal. Não, é uma meiazinha pequenina que, de mês para mês, se vai desfiando até que, mais dia, menos dia, não vai sobrar nada.
   Manter-me neste rumo requer de mim uma coragem que não pensei ter, acreditem. Quantas vezes não me passou já pela cabeça desistir e ir trabalhar para uma caixa de supermercado (forma de expressão, sem qualquer intenção depreciativa para quem cumpre essa função) para ter um mínimo de segurança, para poder contar com um dinheirinho fixo ao fim do mês. Para além disso, apostar tudo por tudo nesta minha nova actividade, implica não só não procurar outro tipo de trabalho como, inclusivamente, não o aceitar se me vier bater à porta. O dia só tem 24 horas, não consigo dar uma no cravo e outra na ferradura.
   A parte mais maravilhosa de tudo isto é que, mais uma vez se prova, não somos nada uns sem os outros. Acreditem, pois é a mais pura verdade, que sem todo o apoio que tenho recebido já teria desistido há muito tempo. Não fazem ideia da quantidade de vezes que já fraquejei, dos ataques de ansiedade que me assomam regularmente, da insegurança que antecede a apresentação pública de cada peça… aos outros, a todos aqueles que me têm apoiado, alguns com uma tenacidade férrea, uma presença constante, devo o facto de me manter na perseguição deste sonho.
   Parece-me assim da máxima importância nomeá-los, reconhecer-lhes o valor, atribuir-lhes a importância vital que têm neste momento para mim. Compreendi finalmente aquela lista interminável de nomes que eles leem na entrega dos Oscares, e dou graças por não me poderem mandar calar com a musiqueta. ;)



   Quero assim agradecer, antes do mais, aos da casa, evidentemente. Ao meu filhote e cara-metade, pela paciência para me aturarem nesta fase em que ando meio alucinada. Pelos “já vou, dá-me só mais cinco minutos” que acabam sistematicamente por se transformar em horas, pelas refeições tardias e às vezes já meio queimadas, pelas frequentes secas que levam no carro quando vou comprar materiais. Ao Zé, especificamente, pelos pequenos favores que lhe estou sempre a pedir, pela ajuda extra nas tarefas caseiras, por aguentar as pontas quando é necessário.

   Depois, à minha família, começando pela minha mãe, que gaba o meu trabalho a toda a gente nitidamente a rebentar de orgulho. Sempre pronta a ajudar no que pode, quer física quer financeiramente, que me passa roupa a ferro para me libertar o tempo e me compra reconstituintes quando estou a cair par o lado de cansaço.
   Aos meus irmãos, meus fãs incondicionais, que não se cansam de me gabar o talento e de dizer que acreditam  que foi desta que acertei de vez.
   A uma das minhas tias que, de cada vez que fala comigo, seja por que razão for, aproveita sempre para me dar os parabéns pelo meu trabalho, que segue de perto, e acreditem que esta não é público fácil, é do mais exigente que há.

   Aos que se deram ao trabalho de me telefonar ou enviar mensagens pessoais de incentivo, tentando incutir-me confiança, tecendo elogios que me puseram a lagrima ao canto do olho.

   Aos que me compraram ou encomendaram peças, com especial relevo para uma que diariamente me apoia, manda força quando sente que me estou a ir abaixo, gaba e divulga regularmente as minhas obras.

   À Diana, por me ter contratado para a ajudar num projecto da Oficina 166, proporcionando-me uma bolhinha de ar financeira a fazer aquilo que gosto durante o mês de Novembro e por agora me ter convidado a lá fazer workshops. Já sem falar da sorte que tive em conhecer uma pessoa extraordinária como ela.

   Á Sofia, pelo magnífico elogio no Passei e Gostei, que me fez sentir que o ano começava em beleza. Bem hajas, Sofia!

   Às MAO, genericamente, o grupo mais incrível e dinâmico ao qual já me adicionaram no Facebook (obrigada, Madalena), pelos tão importantes Likes à página e às peças, e mais especificamente a todas aquelas que se deram, para além disso, ao trabalho de me enviar mensagens privadas.

   À Isabel pela oportunidade de fazer uma mini-reportagem sobre o meu trabalho para o De outra maneira.

   À Clara, por me ter convidado a expor na Galeria 36. Bolas, estou a rebentar de contente!

   E estou agora para aqui a tremer, perguntando-me se terei deixado algum agradecimento importante de fora… Enfim, agradeço a todos os que de alguma forma, por alguma via, me têm apoiado e ajudado. Podem ter a certeza absoluta que, se alguma vez for alguém, a vocês o devo, sem a mais pequena sombra de dúvida. Bem hajam!!!

   Amanhã faço 53 anos e, de certa forma, tenho a sensação de estar agora a começar a minha vida… sensação estranhamente empolgante, confesso.    





COM MÚSICA

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